domingo, 21 de dezembro de 2014

Para quando pedi a Deus que nunca me deixasse ver nada





Sabes que sempre tive medo do paranormal, como quem teme brilhar e ser grande no seu melhor. Me lembro que a primeira vez que fui a um terreiro, me caguei nas calças. Só de me lembrar me vem o cheiro de defumação habitar minhas narinas – era dia de Cosme e Damião – cheiro de pipoca doce.
Me lembro que foi em algum momento de minha infância, quando tomado por uma paúra sobre o desconhecido, que me vi obrigado a lhe dizer através de minha boca. Visualizo a cena que, em meio a multidão de vozes, não temi o escuro, mas sim o que tinha dentro dele.
Lhe confesso que, apesar de sua serventia, isso não me privou de escutar e tudo que não vejo, pareço ouvir em dobro. São vozes, sussurros, vultos e zuncadas no pé do ouvido que me fazem no trato de um deus que diz e se desdiz. Dessa escuta trago muitos frutos que por si são –  pedras que trago para o meu tato e para o tato de meus semelhantes.  Sinto mediar transações entre o mundo visível e invisível, assim como eu mediava os confrontos naturais do jardim em minha infância. Transpasso por esses mundos audíveis e nisso sou atentado a tentar sempre uma cesta cheia. Independente da posteridade, tempo ou espaço, isso que lhe compartilho aqui nesta carta me faz conceber esse cumprimento: se não o fizesse talvez me perderia nos sons que capto. Na crackolândia vejo vários médiuns padecendo, invertem a calcificação e queimam o cristal errado.
Uma vez, um caboclo me disse que minha missão nesse plano é espiritual e que o resto devo levar com calma, mas que jamais poderia decair disso, caso contrário iria sucumbir. É talvez por isso que sintonizo tais frequências e luto em persistir.
Ah, como deve dar para perceber, perdi o medo de terreiros, assim como tantos outros, mas mesmo assim prefiro continuar sem ver – a clariaudiência já me basta para dizer e desenhar o terror de minhas imagens.
Desde já lhe agradeço por se manter firme o nosso laço, pedindo que ele permaneça assim firme, como o som é anterior aos homens e a realidade que nos cerca. Deus se manifesta mais pelos ouvidos do que pela boca e pelos olhos.

Sigamos juntos, com toda simpatia e gratidão, B.P.

À linha do trópico de capricórnio



Amiga, mesmo lhe conhecendo pouco, sinto a necessidade de lhe escrever. Saiba que não foram nos livros de geografia que lhe conheci de fato.

Eram nas viagens familiares para Itatiba que tínhamos nosso contato fundante – o primeiro real e verdadeiro. O único vestígio de sua real existência era uma placa que, ao ser vista por minha tia Irene que dirigia o fusca e ser anunciada em alto e bom som, gerava uma antenação em todos os presentes afim de te comemorar.

Depois disso era só uma leve trepidação que nos levava ao delírio e gritávamos o prazer de sua assunção.

Sua imagem me é fundadora por, além de ser de estrada, mostra a gênesis de minha atenção pelas coisas simples, invisíveis e insignificantes – comemoramos a sua imaginação que é o delírio de um outro.

Mas o maior aprendizado que trago de nossos contatos é que a concepção de planeta é imaginária. Isso me fez ver que não era uma linha que dividia os climas da terra. Isso, ao mesmo tempo que me intriga, amiga, me responsabiliza – responsabilidade de mundo – e o corpo, assim como a terra, são anatomias imaginárias: massas retilíneas  sujeitas a transformações e moldagens – cada um, a partir de seus devaneios, pode criar a sua concepção de mundo, planeta e corpo.

Fico feliz por essas imagens ainda estarem em mim, sou muito grato por elas  e por tudo que elas me fazem apreender – coisas tão óbvias e tão simples mas tão fundamentais.

É nisso que vejo a importância das crianças – são elas que nos fazem sorrir, alargando as linhas estabelecidas e comemorando as coisas simples da vida.

Prometo-lhe, a partir de hoje, que irei deitar sobre você, não por nada, mais por nada mesmo, só para conquistar mais essa inutilidade básica.

Me  despeço dizendo que prosseguiremos nisso juntos, muito obrigado,
do sempre seu, Bruno Pastore.

O nome arte é redundante para dizer de uma cosmicidade, pois toda arte pretende este trabalho e, sendo cosmicidade um nome demasiadamente vago, ele dá a oportunidade de abranger inúmeras possibilidades e assuntos, podendo ampliar e assim implodir a arte através desse alargamento.
Aqui foi abandonado o nome arte.
Apresentar estadias giratórias, por serem singulares e universais, é o trabalho objetivo (trato aqui de objetos) da cosmicidade. São objetos gonzos que acessam a memória cósmica por terem uma fidelidade psicológica, pois não se alinham com as exatidões da memória social, fazendo parte de um acordo íntimo e ancestral. Por serem dobradiços, atravessam o acordo social e revisitam o pertencimento do mundo - não o mundo do manejo, dos costumes e dos comandos sociabilizados, sim do mundo comandado pelo sol. É no esvaziamento do mundo que nos impele contra esse mundo do sol que comanda, que surgem estas ferramentas que servem para renovar o ser, dar vida e reconcilia-lo com o que nos acolheu primeiro.
Fazer visitar esta primeira acolhida - abertura ancestral onde o sol é o único dominador -, e fazer ressoar os dinamismos de entrada no mundo é a agência de tais objetos de cosmicidade.
Nessa abertura o ser se vê apto a expandir-se a cada revigoramento.
Fazer visitar este mundo da primeira vez onde moram as lembranças da infância, dando-lhes vida numa memória experimentada, afim de testemunhar o eterno de tudo: sol, céu, o cheirar e o andar, fazendo estar presente em todas as ações de existência que nos são anteriores e permanentes, é uma de suas maiores pretensões.
Fazendo uso das exatidões dos universos imaginados, assinalando a vida de maneira ilustrada como a infância é, fazendo vê-la e revê-la com suas cores e seus cheiros, esta cosmicidade visa o acolhimento e a visualização do entorno ressoante, através de uma terreno-sondagem dos universos íntimos e êxtimos.



Visitei uma contradição

Chegamos num estágio onde a palavra não conta e tudo precisa ser tangível, documentado e visto fisicamente. A expressão "não fale da coisa, mostre a coisa", impera numa postura mensurante onde a materialidade é exigida. Toda comprovação material é materialista.
Um salto seria decorar e contar verbalmente para as pessoas as coisas de que tenho acessado.
Essa seria a desmaterialização disso que trabalha.
Sinto que tudo que se mostra através de mim poderia ser visto e compartilhado sem a dependência dos objetos, pois eles por si são estandartes simbólicos para a transmissão de motivos e costumes que poderiam transitar e existir sem eles. Eles se dão na medida em que a nossa sociedade ( incluo minha educação prática/criativa) necessita de documentos mensuráveis. Essa é a prova que meu corpo se contradiz por provenir de um materialismo e cultuá-lo, fazendo uso dele para atender as demandas de minha ideologia que insistem em propor uma desmaterialização da vida.

Eis a encruzilhada.

Meus devaneios me exigem a dignidade de escritura, pois a medida que vazam, produzem excrementos e resíduos que dão formas a essa exceção. Tenho que cumprir incondicionalmente.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014



adentrando a eira da palavra costureira, doceira, boleira, cozinheira e marceneira




sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

cartas aos devaneios de infância

http://www.youtube.com/watch?v=gt9PFB-C1Dg

Sobre o abandono da arte de acolhida e o escave de uma cosmicidade






                                        Cosmicidade

Foi quando consegui buscar os limbos das sombras memoriais de minha infância, transformando-as em luz, em água tranquila e lenta, que acessei, nessa reforma, as espessuras de um nascimento.

A arte aqui tomou um sentido expandido - sendo arte só por falta ainda de outro termo que diga dessa agência -, funcionando para fazer e refazer estas camadas - refazendo o sentimento de acolhida e a sensação de estar em casa. Ela funciona como a própria natureza da terra, evidenciando - e por isso fornecendo - inúmeras oblações e reservas nutritivas - como uma espécie de cotilédone placentário. Só assim foi possível saltar do negativo para o positivo de estar no mundo não como um ser abandonado sem amparo, e sim como um ser acolhido no anteparo terrestre. Esse processo é semelhante ao das folhas embrionárias que, com reservas nutritivas, fornecem alimentos aos embriões contidos nas sementes. Simplesmente ver e falar para que essas camadas de nutrição sejam vistas, é o trabalho desta arte de acolhida e acolhedora. O radicante de sua voz é exaltar, fazer e refazer a goma ligante e as energias de cada fibra das peles - aqui identifico sete - entre as divisões sub-uterinas do mundo, do planeta e por que não, do cosmos: tudo isso, aqui, chama-se casa.

Na impossibilidade de abandonar o espaço, estando mergulhado na tarefa terrível de ser num sistema universo, nasce a possibilidade de recolher-se no seio da vida que é a Vida De. Esse momento é visto como o momento negativo do morar que determina um recolhimento de inversão - uma presença junto a tudo do entorno, sugerindo amigamentos, elegias, elencamentos, evocações, exclusões, repulsas, atrações e aceitações, tudo isso sob o signo da gratidão -, e jamais um sentimento de uma posse-eco, mas sim de pertencimento por conter um recuo diante de tudo. Isso implica - implica por sugerir um arrebatamento incondicional, sem desvio - um acontecimento novo - estado de relação com o que ainda não vivemos e não nos é. Essa relação com o novo, com esse Outrem é o que nos acolhe na casa, na presença discreta do feminino. Para que a arte de acolhida – nome-forma provisório da expressão de uma cosmicidade - possa ser vista e realizada discretamente como a essa presença feminina é, é preciso rejeitar a posse, a autoria, como forma de doação - anulação da mão que assina -, pois só assim é possível ver e apresentar - até quando seja necessário - as coisas em si. Para atingir esse não eu, é preciso se situar acima do comprometimento pessoal, se pondo em questão constantemente ao abordar esse Outrem indiscreto que se apresenta. Abordá-lo é recepcioná-lo de cima e jamais de fora, não com o olho que mapeia e se perde na tentativa de esquadrinhá-lo, sim com a medida mesma que ele sugere.


O nome arte é redundante para dizer de uma cosmicidade, pois toda arte pretende este trabalho e, sendo cosmicidade um nome demasiadamente vago, ele dá a oportunidade de abranger inúmeras possibilidades e assuntos, podendo ampliar e assim implodir a arte através desse alargamento.
Aqui foi abandonado o nome arte.
Apresentar estadias giratórias, por serem singulares e universais, é o trabalho objetivo (trato aqui de objetos) da cosmicidade. São objetos gonzos que acessam a memória cósmica por terem uma fidelidade psicológica, pois não se alinham com as exatidões da memória social, fazendo parte de um acordo íntimo e ancestral. Por serem dobradiços, atravessam o acordo social e revisitam o pertencimento do mundo - não o mundo do manejo, dos costumes e dos comandos sociabilizados, sim do mundo comandado pelo sol. É no esvaziamento do mundo que nos impele contra esse mundo do sol que comanda, que surgem estas ferramentas que servem para renovar o ser, dar vida e reconcilia-lo com o que nos acolheu primeiro.
Fazer visitar esta primeira acolhida - abertura ancestral onde o sol é o único dominador -, e fazer ressoar os dinamismos de entrada no mundo é a agência de tais objetos de cosmicidade.
Nessa abertura o ser se vê apto a expandir-se a cada revigoramento.
Fazer visitar este mundo da primeira vez onde moram as lembranças da infância, dando-lhes vida numa memória experimentada, afim de testemunhar o eterno de tudo: sol, céu, o cheirar e o andar, fazendo estar presente em todas as ações de existência que nos são anteriores e permanentes, é uma de suas maiores pretensões.
Fazendo uso das exatidões dos universos imaginados, assinalando a vida de maneira ilustrada como a infância é, fazendo vê-la e revê-la com suas cores e seus cheiros, a cosmicidade visa o acolhimento e a visualização do entorno ressoante, através de uma terreno-sondagem dos universos íntimos e êxtimos.
Trata-se também, de um jogo de correspondências - fazer uso das ilusões como um adentramento na realidade. Este trabalho é fazer a realidade – trampolins para o processo de ilusão -, corresponder aos devaneios e assim, fazer possível manter-se no real.

Essa empreitada não trata de representações oníricas e nem de substâncias que se revelam no brilho. Opacidade, musgo e terra, são palavras que correspondem mais a este trabalho de recolher a realidade para dentro dos devaneios, transmutando-a nessa cobertura, para depois estendê-la novamente, renovada e flexível, aberta a alternâncias e conjugações – forças aéreas e terríveis como a água parada de um lago que, preso na terra, reflete o céu. As nuvens caminham dentro do lago, como o lago anda com as nuvens. È por isso que nesse lago de água parda, não é a beleza o seu elemento. Fora o seu reflexo, pouco brilho existe no verde - musgo de sua água velha, enlameada, onde poucos ousariam mergulhar.  Nessa água, é a velhice que reina oposta a eterna juventude, uma velhice que é renovadora por se tratar de uma água medicinal, medicinal por se tratar de uma água velha , e velha por nela se dar a impressão de que ela sempre esteve ali. Aqui, não são as belas aparências do mundo interpretável dos sonhos - que seguem o encalço do mundo desperto, positivo e cognoscível - que reinam, a elevação da verdade e a perfeição, são estados distintos dessa agência. Nela, não se acessa um deus artístico e lacunarmente diurno, pois em sua essência, lhe faltam limites – a aparência ilude, engana e, sem delimitações, não ensina nada por somente esbarrar agitações selvagens, contradizendo a sabedoria calma do artista. É impossível ser solar e calmo, ao mesmo tempo que colérico e arredio, por isso, é a tentativa de permanecer nessa conjugação que gera uma embriaguez arrebatadora e repousante ao mesmo tempo. É essa embriaguez incondicional que nos faz tocar o homem natural e ingênuo, até o esquecimento de si, que é oposto à consagração da beleza. Esse rompimento com o cordão umbilical “consigo”, é o que faz desaparecer inteiramente o princípio de individuação, e com isso, a subjetividade se desfaz diante de um impulso geral, natural e universal. É nessa reconciliação com o sempre oculto da natureza, nos fazendo evidenciar uma pareia e beber de seus dons mais terríveis (tratamos aqui de terra), que conseguimos ir além de nossa ligação com os homens-imagens com seus desejos, tarefas, prazeres e dramas. Nesse ir além, todas as delimitações, junto com o arbítrio, desaparecem diante do hálito da fenda ancestral e anterior aos acordos. É o manter-se farejando esse hálito, que faz espocar e manejar as imagens que sugerem a laboração desta cosmicidade.

Conceber e adentrar o âmbito disso que brota, exige o desprendimento das educações e, principalmente de dogmas que já dizem, cercados por todos os lados com palavras, sobre o natural e a natureza - como se desaprendêssemos a andar e falar. Só assim, encantado, ingênuo, borrado e simples, é possível – a partir de si, e não de falas externas, fazendo viver em si mesmo o que é sugerido somente em potência imaginativa - acolher essa harmonia de mundos e sentir algo diverso que soa sobrenatural. É por isso que não é possível falar em arte, nem de poder artístico – nem mesmo na voz de um artista -, pois é a natureza sem nome que se apresenta opaca e o caminhar se torna tão extasiado que tudo é obra de arte, deixando de se fazer necessária.
Nessa correspondência cósmica, os corpos são trabalhados – verificados, recortados, ajuntados, diagramados, justapostos -, tratando-se de colagens, pinturas e esculturas que rediagramam a vida num constante reposicionamento, nos deixando para a natureza, como a tinta é para o pintor.

Os devaneios são naturais e, se os devaneios são o jogo da natureza com o homem, os trabalhos que se dão numa cosmicidade, são frutos do jogo do homem com seus devaneios. Por isso é necessário, o tempo todo, recuar e ausentar a voz do homem que fala, pois este estado, se não experimentado em si próprio – e consecutivamente por si próprio -, não passará de uma alegoria. Só se pode ser semelhante e comungar dessa conjugação, quando se devaneia o devaneio como devaneio. Pois é assim que cada um se sabe, prescindindo ao seu modo, podendo o barco partir de qualquer porto. É assim que se pode ser servidor do devaneio.

o barro da palavra bairro

todos os mapas mentem
topologia afetiva da infância




rir é fácil
o palhaço repentista de chapéu azul
divulga o trem de suas entranhas
arranha a placenta do escondido e tudo fica preso por um vento:
a epifania citadina
um guarda chuva afetivo
e as fronteiras que mastigam a célula
mão na raiz bambu lã e caranguejo
lesmam uma saúde cósmica

...

tudo é uma graça
abrir os olhos mesmo que essa não seja a matriz
é uma via de passagem
o rosto calmo de minha avó cantando para a chaleira

é a respiração falando
em tempos de abundância


...

quando a fala se agride
carrega em si algo que se revista e distrata,
que distrita e nada é revisitado

a história o livro a fotografia a geografia e toda separação dos povos
o sujeito é um cavalo nóia
todo já caído por terra




um céu parelheiro relata
 uma onça  dançando no baixo ventre
e tudo pedreira uma música mais calma



tem dados momentos na vida que miramos a parte baixa da calçada
tão ingrime como um despenhadeiro
depois de toda dispersão um recolhimento

e todos os níveis do chão miram o céu



albumina






vi que eles fazem muita arte, como se tocassem piano.
até é agradável, mas não é o correr dos rios nem o murmúrio das árvores.
para que arte e para que é preciso ter piano?

o melhor é ter ouvidos e amar a natureza

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

a noite adentro meu canto
um amigo que me conhece de sobrenome

e que diz que sou uma eterna criança
um deus que faltava
e o humano que é natural por ser divino
sorrir e brincar
e é por isso que tive esta família rasurada
advindo de uma invasão
aceito
e que só duma profanação eu poderia ter vindo

os cupins estão a comer
e apesar dê

vejo as plantas da casa natal
pincel cravado na terra
as pontas dos meus dedos agarram o cimo
 onde o sol mostra a cabeça

trago ao universo ele próprio





quinta-feira, 27 de novembro de 2014

boas novas sobre a permanência: Programa Agente Comunitário de cultura



Documento aqui que faço parte da primeira edição do programa Agente Comunitário de Cultura, por conta de um projeto de pesquisa selecionado via edital.

 A proposta do programa é de apoiar financeiramente por meio de bolsa, os indivíduos 
que, de forma individual ou coletiva, desenvolvem, entre outras ações, processos de criação e produção nas diversas linguagens artísticas e de expressão cultural: práticas culturais relacionadas ao pensamento, formação, qualificação, criação e disseminação.   

Por isso estarei me dedicando com afinco os meus estudos de cosmicidade, com tranquilidade, efetividade e respeito que eles exigem e merecem.

Em breve estarei compartilhando mais do processo por aqui.
Ao final da bolsa, irei partilhar os resultados, contribuindo com a produção e a promoção cultural da cidade.

Por hora só quero deixar claro que, o nome Agente Comunitário de Cultura, diz mais da empreitada de meu trabalho do que a palavra artista ou poeta.
Prefiro me considerar um agente cultural, pois tem mais a ver com rituais, situações, encontros e com os objetos de emergência que concebo naquilo que Age em prol. Tenho mais costumes e prazeres a serem compartilhados do que objetos de arte. E é disso que vêm as soluções que apresento à comunidade. 

Cultura aqui é o modo como concebemos, habitamos e construímos a casa!

Partilho aqui, novamente o organismo da pesquisa:















Muito obrigado!

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

#

aceito minha dor
é uma amiga que me faz seguir ou recuar e na dificuldade de ouvir o coração é ela quem fala
ouço esse segundo coração - exú de minhas encruzilhadas
só assim ela irá partir ou revezar de lugar

cada fruta carrega seu cacho e da vazão à suculência numa agonia em estado de ser

estou chegando num estado onde o vento é expresso nas árvores e é numa impossibilidade de ficar parado que as coisas mais gratas fluem. é quando estou parado  que vários estados vem ao meu encontro, alguns frutíferos e outros não. me sinto numa necessidade de adentrar. é como se soubesse de todos os mundos que me cercam e quisesse sempre visitá-los. ao sair de casa percebi que me cabe mais a palavra endereço do que escritor ou poeta - um endereço a endereçar. esse endereçar vem de uma necessidade que, vista por um prisma capaz, me faz compartilhar meus prazeres incontrolavelmente. são mundos que acesso enquanto uno a inevitável criação com a saudável atividade. eles são sempre frutíferos e espocam na realidade me fazendo bem, me dando esperança e, por mais que eu não acesse nada, pelo menos fico com o texto e com os materiais que se acumularam e se diagramaram conforme suas fruições. eles trazem em si possibilidades de mundo - minhas mãos escrevem, poderiam estar fazendo coisas piores nos mandamentos desse impulso. sinto estar tomando posse da mão: sempre um endereço a endereçar.
Perguntei a Baudelaire sobre meu egoísmo, onde ele estava – pensando na faceta artista - ; num mimo ele respondeu seco:

Da vaporização e da centralização do Eu. Tudo está nisso

seguir o encalço nietzschiano

circular a palavra vaporização ligando uma seta:

a criança conhece um devaneio natural de solidão, um devaneio que não se deve confundir com o da criança amuada. em suas solidões felizes, a criança sonhadora conhece o devaneio cósmico, aquele que nos une ao mundo – núcleo de infância.

circulada a palavra centralização uma seta liga mais embaixo:

lembrança de estado – horas do “norte”; horas sem relógio que só existem na infância – revisitado isso que eu usava quando sabia que ia dar “ a minha hora” de voltar pra casa

este será meu norte

ronda e norte são tags que faço quando a mão fala por si – escuto a voz do corpo

este será meu norte

entrava pela frente mas ia direto ao fundo da casa e entrava na cozinha – direto ao fundo da casa: impressão de profundidades. ateliê primeira casa/quartinho, lugar de trabalho e quando não sempre foi uma espécie de porão/ depósito da casa  – lugar onde frequento com frequência e me vejo como sou realmente (animal riscado): frase no batente da porta e eneagrama na porta – entravamos pelos últimos cômodos

sempre os últimos cômodos


sentado num pano tecido por sóis luas e estrelas fecho os olhos e vejo o ponto preto que reveza o lugar
abro e as copas das árvores são a continuação de minhas pálpebras
ando em cima de um elefante e as crianças vem ao meu encontro
escutando aquilo que escrevo com os olhos
e novas notas musicais são tocadas

si     ser        sendo


tudo que sorri pra mim é meu amigo

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

do deserto à maturidade lúdica sorrio a lua nova que transpassa minha vida em nostalgias e num rabisco acesso os pontos de mundo que me eram companheiros

farejo rumo

a morte a mercê da viagem

exponho-me no colo do bom tempo






transfiguração em Ungaretti




Adentro saturno



















Arte de acolhida:

refazer o corredor onde o espaço do indivíduo em sua primitividade se faz e a vida desliza sempre crescendo e se aprofundando. Espaço onde a pele retoma seu lugar e movimenta-se de forma perceptível - isso é uma noção de casa ( educação física). Aberto esse pequeno orifício, após o contato com o momento/objeto/situação, tudo se torna familiar a ponto de ser mais que possível falar com sigo mesmo: cá estou, cá estou.

Se trata aqui de realizar uma estreiteza através de uma espécie de impressão primária: a de estar em casa.






de manhã tinha um pássaro na minha janela
ao ser olhado ele voou

repetirei isso durante o dia todo para firmar meus pés
e por mais que um logos esteja costurado na língua
todo pássaro nas vistas é uma liberdade
e o homem preso sente o sinal 

essa tautologia eliminou a culpa e o caminho confiou no caminhante
fin-can-do-se


nada de realidade e nada a ver com a voz
um dizente que tece a realidade num novo mundo adentrado neste mesmo
bulbo rente as raízes

algo deve ser parido



descoberta da matéria querida
o animal é feliz quando pode ser o animal que se é
assim ele areia

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

um homem é rico em proporção do número de coisas que é capaz de deixar tranquilas.
Bachelard




cada flor que cai no chão me diz sim
eu consegui ser uma  árvore grande
foi e é nessa vingança que eu me fiz
agora pode seguir com essa lição de gravidade

e conte em suas crianças


alimento as crianças
as amoras foram arrancadas não por uma sublimação
o mesmo se deram com as máscaras
subida justa que se reconhece se amiga e se enamora duma mulher interior
- sinto migrar as energias -
grande chacra que anda e reveza o lugar
como fazem as perguntas

em cada estada uma chama
cheiro de casa antiga
janela aberta em si

esquecer-se é um dos nomes de deus

quinta-feira, 23 de outubro de 2014



gingado nos quadris
por isso a janela aberta
tudo absolvido
aderência sem medida
o corpo e a peça
forço um passar do tempo

não ser é mais duro
é como descansar
dia lindo e grande e nele a percepção de todas as sincronicidades imagéticas - sentimentos que estremeceram meu corpo
todo o embate com a realidade do entorno faz transpor outros níveis - aberturas respiratórias desenham um pouco de dentro - escava balsa e chama que se retrai e se expande com cor
cachorros uivando e por mais que o corpo tente
ele escapa
permaneço na substância - a escrita aqui celebra um contato rente - sempre um deixar-se
sei que os cães lá fora exercem a sua cidadania
isso é tão real que a escrita tenta bancar
e escapa

toda vez que temer não guiar meu corpo
escreverei tomando posse da mão - dínamo
todas as minhas ações são fecundas pelo vento


minha própria vida - possibilidade do resgate
um cachorro brinca lá em baixo
já respiro num devaneio

os bairros são uma mesa de vidro
só vida em meu corpo
aceito a coragem da imagem mais escabrosa

nomes de deus

eliminando o stress dna da lama estado de sonhos cura total controlando pensamentos criando milagres luz recuperada túnel do tempo saindo da depressão visão de longo alcance mãos livres paraíso na terra amor incondicional lugares purificados proteção faca influências angelicais confiança chama compartilhada fertilidade água sem ego memórias abismo inferno termino o que começo ponte almas gêmeas sócia silenciosa ordem caótica vaga falo o que penso palavras boas diamante bruto circuito criado grande vista coragem energia sexual me esqueço lado negro revelado unidade dignidade abismo absoluto recepo movença sersendo há prosperidade poder julgamentos adoçados mente sobre a matéria auto estima paixão desculpa o suficiente não é suficiente o melhor revelado apreciação pai não mestre e nem pregador líquidos liberdade cordão umbilical em frente alma escuta purificação universos paralelos encontrando a solução do problema no problema caminho achado contato com almas que já partiram grandes expectativas poli versos responsabilidade respeito a terra
percorri o caminho do sempre
o sol se espremia entre os prédios
jamais me apego as imagens

eles sentados ali na beira do rio rotos e ratos de tudo comendo os restos na tigela me afaga a alma e tudo cintila e se torna amável cessando todas as contradições e posso voltar a dizer novamente num tempo antigo e que só há

que as arvores ainda servem aos homens





quinta-feira, 16 de outubro de 2014

ao menor sinal de troca ele recuou e quase uma honestidade foi evidenciada
 a resistência burlou esta lei e é sabido que alguma coisa ali naquele gesso que fazia ele digitar e olhar no relógio e chamar o próximo número sabia que com certeza ele chega em casa com as cestas cheias de frutas e conta a lenda do chinesinho que mergulhou em busca da princesinha do mar e um sorriso é esboçado naquele rosto e diversas relações com outros planos co-existem e implicações e cumplicidades num frente a frente se dão na sua biologia

e por ele é sabido

Fundação de um novo estado




Festival Burrus


objetos de emergência:

 há fotos, objetos, imagens, coisas e pessoas extremamente simples a que dou extrema importância.Eles introduzem um outro tônus na realidade. Com eles tudo ganha novas tonalidades, sintila, tudo fica amável, diferente e nesse revigoramento a conversa flui, a escrita flui, uma pessoa que entra é acolhida de maneira diferente, nada é mais reativo, tudo sai fora do normal, se enche de uma água vital e inúmeras possibilidades vem me visitar. A partir daí, passo ver a vida por um diamante, enxergo tudo clivado, a própria percepção do real muda, estabelece-se implicações e relações mutuas. Eles me fazem, as vezes por serem tão abjetos, acessar o tempo em que um tempo novo se cria, em que uma maneira diferente de viver surge - possibilidade da vestimenta. com eles logo acesso e aceito minha maneira de viver, mas não a minha, sim aquela que me é própria. É quando topo com esses catalizadores de toda espécie, que sinto num núcleo acessível o campo do possível e nisso a vida se torna rente, o espirito e o corpo são a mesma substância, cessando por hora as dicotomias - momento onde tudo é aparentado, incestuoso.  









Mostra NoLombo do Burro
festival de poéticas que marca e registra um pouco da trajetória do Sarau do Burro 
Galeria A7MA - fotos: Tche Ruggi e Daniel Minchonni



Registro do ato bate papo que mediei entre o arquétipo Writer e a samambaia verificando a pergunta Oque temos de planta




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Organismo radicante:


Divisa



                                         


                                          

Divisa


terça-feira, 30 de setembro de 2014

jabur: força de deus
Campos: dos campos
Pastore: de pastor mesmo
e a lacuna que visito através da água de meu corpo
agradecendo a família verdadeira de minha mãe

Honro as demandas do futuro sem abandonar as do passado
amor e carinho em todos os atos dessa presença

 visitei um vizinho que me deu pistas para acessar esse quadrilátero:

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a Olhar.
Toda a paz da natureza sem gente
Vem sentar-se ao meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
e as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como u ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
è a minha maneira de estar sozinho



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

#

Ele no meio da fala apontou os jovens na outra margem do rio e quando cerrei os olhos vi um pega pega acontecendo e isso me acalentou e na notícia da seca avistei a transição: consegui comemorar o aniversário do rio

daqui em diante vou escrever de vermelho a palavra CHOVE  nas ruas das cidades - sempre mantramas que vão no avesso da fala vigente

 pés d`agua bem perto e impressões de vida arraigadas ao organismo da cidade - pensamento eclusa:

deve existir cápsulas onde as células embarcam e desembarcam e se apertam num vagão para devenires constantes

é linda a visão da subida de um leito do rio para o outro

Ele estava ali prostrado vestido de preto tal como um abutre pastoreando o ser na observação das células que passavam por dentro da artéria citadina
A estada por segurança era só uma fachada - irá chover hoje: no fluxo da Sé se dizia o acontecimento de alguma coisa lá fora - não sabemos o que está fazendo alguma coisa que não sabemos o que é

dormi colado na  substância avistando ela antes de pegar no sono e digo que dormi e só dormi
dois relógios despertaram e entre um e outro acessei um estado de vigília onde tecia uma fala indescritível boa e grande
a arruda na orelha da sinais de uma outra economia: um dia toco

Aqui adentro a ventura escrevente de uma reconciliação que em sua torrente conspira e abafa os ruídos das toupeiras que cavam o terreno afim de um desmoronamento - de dentro da terra é impossível ter a visão do escombro: "nunca ficam para ver" traduz um pouco da palavra intelectual especializado que tem a voz e dita a verdade de uma distância oceânica

Ele passa manteiga no pão

farei objetos transicionais para esse processo de mudança - era da maturação: manutenção do mesmo e novidades mesmas para uma insondável época de mãos na terra - filosofia do homem simples e a demissão da cabeça pela admissão da cabaça:

Ana Maria desiste das notícias sensacionalistas e volta a dar apenas receitas caseiras
- o cogito global e o logos globalizante não valem para o pólen caminhar a semente -

visgo aqui a intempérie de um senhor apontando o dedo para Adão e Eva depois de serem expulsos do jardim e serem condenados a errarem sem pátria para todo sempre somente para dizer que nós fazemos vasos de barro e isso é a prova de que não estamos largados aí no mundo: errar aqui é um convite a cocriação: não uma forma de interpretar o mundo mas sim um martelo para forjá-lo
novamente não se trata de peixe grande e sim de pegá-lo com a mão

jogado pra fora do estrabismo existencial que só fita a clareira da perplexidade não posso negar a mão que balança o berço - todos os abutres e todas as serpentes eram fêmeas fecundas pelo vento

                            por isso bonecos de panos para um desenho de interior

cheguei antes das portas se abrirem e tive que costurar uma esperança na decifração das ferrugens disso que era metálico duro e talvez por isso tenha contraído uma animação similar à origem da palavra tétano em espasmos dolorosos para fugir de uma rigidez muscular que me levou à distúrbios neurológicos me fazendo cumprimentar e dizer boas palavras toda vez que via meu reflexo no espelho até aceitar este corpo como um barro que anda - todo barro que anda é santo
foi na diferença de minha vírgula na terra que aprendi a aceitar e amar que me fizeram acolher o céu nublado com tamanha facilidade: vamos dançar a gratidão de cada gota



                       por isso toda vez que perguntam como estou digo que chove

 







terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ao contrário de minha avó que acha que o santo percebe se a vela não é de sua parte, se chateando com isso, acendo a vela pela vela, e pelo fogo que, num fluxo e influxo  queima quem esta perto demais e atrai quem está longe – desintegração e aquecimento. Acendo a vela pela luz, para ascender a um revigoramento, para renovar o ambiente, atrair outros planos e assim acessar esses estados. Acender aqui é ascender, é Luz(s)trar  a couraça, 


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Ato de Cosmicidade: "o que temos de planta"


verificamos em loco o arquétipo planta - homem - homem planta: agonia em estado de ser - sal, mercúrio, enxofre e éter.











                                   
                                   
                                     
























registro do ato de Cosmicidade,
Exposição Estudo de Cosmicidade: o que temos de planta
Glaria A7MA e Espaço Serralheria, 12.set.2014



muito obrigado Julia Buscapele e a todos os envolvidos nesse processo!