# Movimento que se dá no poeta:
“dificilmente o que habita perto da origem
abandona o lugar”: em Holderlin
“Todos os caminhos – nenhum
caminho/Muitos caminhos – nenhum caminho/Nenhum caminho – a maldição dos poetas”:
em Manoel de Barros
Não se dá em linha reta, não vai
em direção oposta ao centro(centrifugo), e nem em direção a ele(centrípeto),
não gira em volta dele e seguindo em linhas infinitas a partir dele, no
perímetro convexo – ou seja, por fora do centro – em toda superfície, vindo do interior,
projeta e emite, retomando-o e recolhendo-o novamente para si, gerando fluxos e
influxos de partículas emissoras emitidas de múltiplas maneiras em torno de si mesmo,
como fazem comummente todos os corpos naturais.
Movimento notório às substâncias
que tem qualidades de extrema sensibilidade:
Fogo que se aquece
por todos os lados e o seu meio ao redor se ilumina em todas as direções
O som e a voz que
toma seu redor de maneira homogênea.
O que diferencia o poeta dos
outros corpos naturais?: N A D A.
Em Epidermias de Ângela Castelo
Branco o encalço desta encruzilhada é seguido, perfurando e amaciando a essência em
prol de renová-la:
“Na costura dos silêncios,
recebe-se a missão de ser poeta.
Aceita-se ou não.”
Aceitação aqui é a palavra para
descrever a substância que se move no criador e o faz emitir a fim de dizer e
partilhar aquilo que lhe move e é extremamente sensível.
Edson e a lâmpada.
Leonardo e a asa de morcego
costurada no dorso do lagarto.
A necessidade de atravessar sem
molhar meus alimentos e a construção da ponte.
Para emitir estas partículas, é
produzido um tipo de aparência, simulacros e acidentes sensíveis que se
propagam ligados, mesmo quando afastados de suas substâncias centrais e
estruturais.
*via para verificar o nível de
acesso à “Origem estrutural” e como este acesso pode ser transmitido e
compartilhado: Poema aqui é se dar em níveis de acesso à essa “Origem”:
Abertura ancestral(Racho), Imagem Verdadeira(Buda), Espírito Universal, Célula
Mãe(hematopoiesis), Grande Mãe Natureza, dependendo da Aceitação e em que nível ela acessa e pode ser transmitida e
partilhada.
Estas partículas emitidas e
emissoras, são emanadas e emanam tal como coisas que ficam guardando seu cheiro
por muitos anos, concentrando em si memórias, em despeito de seu pouco volume e
leveza:
Caixinha com joia dentro, frasco
de vidro vazio, garrafa de refrigerante de vidro, alfarrábio, cheiro de roupa
guardada e de mofo, foto velha, selo postal, poney e o matadouro de cabras, cheiro
das primeiras vaginas, convite para um sorvete, cadernos de desenho antigo,
unha riscando a lousa, aquele filme, gosto de água, mato que pinica a perna,
skate tubarão, livro de seres imaginários e por último a maior, a nudez.
Movimento esse que emana
qualidades e virtudes sensíveis na atmosfera de maneira esférica e volátil,
operando sobre o corpo e os sentidos, mas também sobre as profundezas do
espírito atingindo lugares recônditos onde induz afetos e paixões.
Isso é evidenciado em ervas,
raízes e minerais e é o mesmo que acontece com os fascínios do olhar e nas
operações ativas e passivas do golpe de um mal olhado, grande e gordo e e também em dragões que matam homens com a força do olhar penetrante.(outdoors e mensagens subliminares)
São por esses movimentos que o
poeta troca de pele e muda de rosto e de corpo alterando seu estado
constantemente, sem poder cessar.
São essas operações naturais que atuam em
todos os corpos de maneira sensível e que nele se dá sem bloqueios, pois ele
sabe dessas metamorfoses como ninguém e cuida, trabalha, respira nelas
respeitando-as, mas sem se submeter inteiramente a elas, cocriando com elas formas de estar em estado de SERSENDO .
Submetido a essa Metamorfose
correspondente ao Corpo Etéreo, ele se faz mutante frente ao corpo social,
trocando subitamente de estado sem se fixar ao estabelecido, recriando um lugar
que seja sistematizado e imposto por ele, num traquejo similar a um
equilibrista que se mantém tensionado na corda bamba, permanece no antes do
moldado, no lugar que molda e sabe que a palavra é uma massa mole, o cérebro é
uma massa mole, o corpo é uma massa mole e que a matéria e a realidade de
qualquer espécie, segue as leis regidas por uma força anterior que esculpe
todas as outras que lhe sucedem.
E afirma ao Corpo Etério: somos
um só, atuo conforme suas leis, sou regido por aquilo que te rege, atuo naquilo
que nos orquestra nessa grandiosidade, respiro essa grandiosidade,escuto muito
obrigado!
E afirma ao corpo social: o que
imponho a mim mesmo, é levado mais a sério por todos, do que o que me é imposto
por constrangimento, estamos juntos, somos um só perante esse aberto que rege.
E afirma ao corpo: Muito Obrigado
ferramenta potente, seguimos aquilo que nos move sem distinção, somos colados,
por isso nos compreendemos, você me respeita e eu te respeito, juntos
trabalhamos e seguimos esta orquestra divina, somos Amorfos, Moventes, por isso
vivemos em Harmonia.
Tomado por essa corrupção que atinge
todas as coisas de maneira natural, não sendo essa mutação mais do que
alteração e dissolução, vive o risco desse movimento, na Aceitação que faz ver,
ouvir e falar contra qualquer tipo de negligência.
Piloto do Caos: Poeta que atua
sem medo de vestir as Sete Peles.
Apontamento do RISCO: movimento
vivo que cresce e se revigora enquanto a atração (influxo) dos elementos
compatíveis excede a dispersão e o escoamento (efluxo) e envelhece e decresce
enfraquecendo-se quando o influxo dos elementos estranhos e o efluxo das partes
naturais se intensificam.
Escritura, Velhice, Loucura, Morte
e o outro lado dentro desse mesmo: no fim e em momento mais produtivo sempre a
corrupção atinge as coisas, não sendo a Mutação mais do que alteração ou
dissolução.
Me cerco de tudo que preciso para
dispersar e emanar a essência, na medida de Vida, observo isso no Grande e vejo em que momento
estamos nesse movimento divinatório.