quarta-feira, 9 de junho de 2010

falaram, encheram, encheram e inflaram
e ele saiu voando.
Enaltecer, igualar-se em ar e busca,
até o talo encerrar essa distância

segunda-feira, 7 de junho de 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Intervenções



Passando,vi uma intervenção feita no trabalho que fiz a algumas semanas pelo guarita que trabalha ao lado do muro. Durante o processo da pintura, ele disse que meu trabalho era um espectro de depois do terremoto no Chile e o intitulou como “depois do terremoto”. Completei dizendo-o, tens razão, depois da tempestade sempre vem a bonança, já que nestas pinturas, digo de uma inversão de perspectiva, reconstruindo o olhar perante as coisas e como elas se apresentam. Ele, um ser de expressão e linguagem, não ia deixar de se dizer em meu trabalho – o trabalho se dilui sendo hoje, mais dele e dos transeuntes do que meu, até por vivência e convivência- e escreveu seu parecer, dizendo mais do trabalho, denunciando o inacabado, abrindo uma lacuna a ser decifrada:

“Depois do terremoto toda raça humana se foi
tudo porque não tinha Deus”

O trabalho se afirma, assim como a frase, em várias clivagens.
Realizado numa linguagem atual, na práxis, este trabalho diz o mesmo que um herético declarou à Ruysbroeck, mistico de Bruxelas: “Deus nada pode saber, desejar ou fazer sem mim. Com Deus, criei-me e criei todas as coisas, e é a minha mão que sustenta o céu, a terra e todas as criaturas. Sem mim, nada existe”.
Diz de uma construção inumana que passa pelo humano e veio a tona por este guarita pensador. Diz deste trabalho, um olhar para as coisas que nos une e que estão ai, sempre estiveram e hoje são esquecidas pela falta de vê-las, por uma descrença maquiada de um “niilismo normal aos dias de hoje”.
Digo, contra esta balela contemporânea e de lenta dinamitação de Deus, sobre nossos guardiões(céu, horizonte, mar, pedras, plantas, lagos e arvores) que desde sempre nos sustentaram, espelhando nossas reflexões, nossas quimeras,pensamentos sobre a vida e suas sugestões. “As pessoas caminham pela praia, a praia caminha pelas pessoas”, o trabalho segue defendendo os dias de hoje, passando pelo que escreveu o poeta Chacal, dizendo de uma voz em nós, latente nas coisas, como sempre esteve, e cabe ao indivíduo ouvi-la. Tudo em nós depende de nós, é deste resgate que esta construção vos fala,invertendo a frase e pensando seu sentido a partir de um novo olhar:


"Depois do terremoto Deus se foi
tudo porque não tinha raça humana"