sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

LIVRO DE HORAS

Eu concordo frente o mar bravio
sou a beira
salto sem ceder a nada
sou antes

...

Arrepiar nucas
encher os olhos de lago
fazer soprar a voz do excesso

nisso consisto

...


Aqui onde o diálogo é possível
respiro como um barco no mar calmo


...


Sentado no quintal
no por que das coisas
numa oração na mão
me escorre uma lagrima
uma língua me assenta
circulo tão preciso no que digo
no que me diz

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

nada me espanta mais
pois tudo me espanta
num mote

me fiz fibra
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Diriam fácil:

“Talvez um pouco de vida
Talvez por isso tão temida”

Temer a vida é grave, o poeta não teme a vida, pelo contrário, ele é a pessoa que atrai a vida para si, para assim mostrar desse chamamento para os outros.
Um poeta é a nascente da vida, se existe a vida, o poeta é a pedra que está ao redor dessa nascente, ele participa do início do rio:

O poeta sabe que a felicidade é um músculo

Sabe que deve deixar-se levar pela força de toda força viva

E refletir em tudo como um espelho vazio

E isso deve ser proposto por ele, para que todos naveguem, uns na correnteza e outros contra ela rumo à nascente.
Aí cabe lembrar-se de algumas palavras:

Empreender, audácia, braço, vontade e missão.

Será que o poeta deve transformar todos que descem a corredeira em poetas?

Será que deve chamar todos do bote para fazer uso de palavras que façam remar na direção contrária da correnteza, rumo à nascente?

O artista é um homem que contem estas palavras e rema rumo à nascente sugerida, guiado por esta pedra lateral?


Trago em mim uma pergunta imbecil, um ato ingênuo, que só uma pedra lateral pode cometer: quem não é poeta?
#
Quem reclama da vida jamais pode ser um poeta
o poeta clama e exclama, sabe que assim materializa no tempo e espaço, sabe que assim, materializa-se no tempo espaço.

A denuncia foca nos problemas (psis e assistentes sociais, dariam suas economias para interiorizar isso), quando sugere, sugere poucas alternativas, pouca religiosidade(no sentido de religar-se – convite para remar contra a correnteza do rio).

Um poeta que é contra a TV, jamais pode citar a TV, ele em suas palavras, deve ignorá-la e assim faze-la inexistente.

– sabemos que damos existência àquilo que percebemos e, animamos o que percebemos, quando falamos/tocamos (palavra = vida – ditado que deve ser lembrado: falar da vida aumenta a vida). O contrário deve acontecer com o que queremos ignorar e fazer inexistente. Fazer existente o que está abjeto, é óbvio que é o nosso trabalho, mas não podemos esquecer do exercício contrário que também deve fazer parte - se queremos acabar com certas coisas - do nosso ofício.

o mínimo:
CUIDAR DO VENTO QUE VENTA DA MINHA BOCA

O poeta deve transcender a realidade vigente (dado) e trazendo do que imagina/vê, através da evocação das palavras, a mudança da realidade. O poeta deve propor isso, com a mesma facilidade que respira no baixo ventre, recebendo o cosmos , pois isso deve ser levado para sua vida antes que para a vida do poema, o poema deve ser a tradução intima disso, tem que ser o relato desta experiência.

(muita atenção para: através da evocação das palavras e, para redobrá-la, vale lembrar novamente Giordano Bruno em seu “tratado da magia”: “Acrescentemos ainda que é assaz verossímil que todas as doenças sejam maus demônios: pode-se então, através do canto, da oração, da contemplação e do êxtase, expulsá-los da alma - ou, através de práticas contrárias, convocá-los")

Em suma, nada aflige o poeta, ele está acima de mudanças materiais, ele é a figura do ser contente, no bojo do contentamento, o resto é conseqüência disso, na calma de ser, de ser com calma. ( Nos por menores da palavra calma. Sinta-se à vontade para cometer esse desdobramento – se tu podes é claro )

PS: a agressividade é contida em todas as coisas – plantas, animais, ar e até em nosso nascimento – por isso não devemos provocar (e sermos redundantes) um estado que é natural. O poeta sabe que participa, que veio ao mundo sem esforço próprio e assim age, só interagindo.

– o poeta jamais sugere algo se ele não está dentro dele.
Afirmando, escrevendo de modo afirmativo, o poeta se vê incorporado em suas palavras

O poeta é um passo a mais, enxerga o que ninguém vê, vai onde ninguém foi – em Hilda Hilst, mais que seus livros, me interessa muito, suas gravações de diálogos com outros planos do além, me interessa o que Hilda traz de Marduk , seu desejo de construir em suas terras, o “centro de estudos da imortalidade”(pesquiso)