domingo, 3 de fevereiro de 2013


 
“A verdadeira substância de um poeta, aquilo que nele transparece como inconfundível, forma-se, acredito, em algumas poucas noites que se distinguem de todas as demais pela intensidade e pelo brilho. São aquelas raras noites em que o poeta se sente coagido, mas está tão consciente que é capaz de se perder na sua própria plenitude. O espaço sideral escuro de que ele é feito, para o qual ele percebe espaço sem ainda conseguir conceber o que contém, subitamente começa a ser penetrado, por um outro mundo, um mundo articulado, e o choque é tão violento que toda a matéria que nele gira, dispersa e abandonada, começa a brilhar num mesmo instante. É o instante em que as suas estrelas interiores se apercebem umas das outras por cima de vazios tenebrosos. No instante em que elas sabem que existem, tudo se torna possível. Então pode começar a linguagem de seus sinais”.  
 
 
Elias Canetti