“A verdadeira substância de um poeta, aquilo que nele transparece
como inconfundível, forma-se, acredito, em algumas poucas noites que se
distinguem de todas as demais pela intensidade e pelo brilho. São aquelas raras
noites em que o poeta se sente coagido, mas está tão consciente que é capaz de
se perder na sua própria plenitude. O espaço sideral escuro de que ele é feito,
para o qual ele percebe espaço sem ainda conseguir conceber o que contém, subitamente
começa a ser penetrado, por um outro mundo, um mundo articulado, e o choque é
tão violento que toda a matéria que nele gira, dispersa e abandonada, começa a
brilhar num mesmo instante. É o instante em que as suas estrelas interiores se
apercebem umas das outras por cima de vazios tenebrosos. No instante em que
elas sabem que existem, tudo se torna possível. Então pode começar a linguagem
de seus sinais”.
Elias Canetti