domingo, 21 de dezembro de 2014

À linha do trópico de capricórnio



Amiga, mesmo lhe conhecendo pouco, sinto a necessidade de lhe escrever. Saiba que não foram nos livros de geografia que lhe conheci de fato.

Eram nas viagens familiares para Itatiba que tínhamos nosso contato fundante – o primeiro real e verdadeiro. O único vestígio de sua real existência era uma placa que, ao ser vista por minha tia Irene que dirigia o fusca e ser anunciada em alto e bom som, gerava uma antenação em todos os presentes afim de te comemorar.

Depois disso era só uma leve trepidação que nos levava ao delírio e gritávamos o prazer de sua assunção.

Sua imagem me é fundadora por, além de ser de estrada, mostra a gênesis de minha atenção pelas coisas simples, invisíveis e insignificantes – comemoramos a sua imaginação que é o delírio de um outro.

Mas o maior aprendizado que trago de nossos contatos é que a concepção de planeta é imaginária. Isso me fez ver que não era uma linha que dividia os climas da terra. Isso, ao mesmo tempo que me intriga, amiga, me responsabiliza – responsabilidade de mundo – e o corpo, assim como a terra, são anatomias imaginárias: massas retilíneas  sujeitas a transformações e moldagens – cada um, a partir de seus devaneios, pode criar a sua concepção de mundo, planeta e corpo.

Fico feliz por essas imagens ainda estarem em mim, sou muito grato por elas  e por tudo que elas me fazem apreender – coisas tão óbvias e tão simples mas tão fundamentais.

É nisso que vejo a importância das crianças – são elas que nos fazem sorrir, alargando as linhas estabelecidas e comemorando as coisas simples da vida.

Prometo-lhe, a partir de hoje, que irei deitar sobre você, não por nada, mais por nada mesmo, só para conquistar mais essa inutilidade básica.

Me  despeço dizendo que prosseguiremos nisso juntos, muito obrigado,
do sempre seu, Bruno Pastore.

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