quarta-feira, 24 de setembro de 2014

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Ele no meio da fala apontou os jovens na outra margem do rio e quando cerrei os olhos vi um pega pega acontecendo e isso me acalentou e na notícia da seca avistei a transição: consegui comemorar o aniversário do rio

daqui em diante vou escrever de vermelho a palavra CHOVE  nas ruas das cidades - sempre mantramas que vão no avesso da fala vigente

 pés d`agua bem perto e impressões de vida arraigadas ao organismo da cidade - pensamento eclusa:

deve existir cápsulas onde as células embarcam e desembarcam e se apertam num vagão para devenires constantes

é linda a visão da subida de um leito do rio para o outro

Ele estava ali prostrado vestido de preto tal como um abutre pastoreando o ser na observação das células que passavam por dentro da artéria citadina
A estada por segurança era só uma fachada - irá chover hoje: no fluxo da Sé se dizia o acontecimento de alguma coisa lá fora - não sabemos o que está fazendo alguma coisa que não sabemos o que é

dormi colado na  substância avistando ela antes de pegar no sono e digo que dormi e só dormi
dois relógios despertaram e entre um e outro acessei um estado de vigília onde tecia uma fala indescritível boa e grande
a arruda na orelha da sinais de uma outra economia: um dia toco

Aqui adentro a ventura escrevente de uma reconciliação que em sua torrente conspira e abafa os ruídos das toupeiras que cavam o terreno afim de um desmoronamento - de dentro da terra é impossível ter a visão do escombro: "nunca ficam para ver" traduz um pouco da palavra intelectual especializado que tem a voz e dita a verdade de uma distância oceânica

Ele passa manteiga no pão

farei objetos transicionais para esse processo de mudança - era da maturação: manutenção do mesmo e novidades mesmas para uma insondável época de mãos na terra - filosofia do homem simples e a demissão da cabeça pela admissão da cabaça:

Ana Maria desiste das notícias sensacionalistas e volta a dar apenas receitas caseiras
- o cogito global e o logos globalizante não valem para o pólen caminhar a semente -

visgo aqui a intempérie de um senhor apontando o dedo para Adão e Eva depois de serem expulsos do jardim e serem condenados a errarem sem pátria para todo sempre somente para dizer que nós fazemos vasos de barro e isso é a prova de que não estamos largados aí no mundo: errar aqui é um convite a cocriação: não uma forma de interpretar o mundo mas sim um martelo para forjá-lo
novamente não se trata de peixe grande e sim de pegá-lo com a mão

jogado pra fora do estrabismo existencial que só fita a clareira da perplexidade não posso negar a mão que balança o berço - todos os abutres e todas as serpentes eram fêmeas fecundas pelo vento

                            por isso bonecos de panos para um desenho de interior

cheguei antes das portas se abrirem e tive que costurar uma esperança na decifração das ferrugens disso que era metálico duro e talvez por isso tenha contraído uma animação similar à origem da palavra tétano em espasmos dolorosos para fugir de uma rigidez muscular que me levou à distúrbios neurológicos me fazendo cumprimentar e dizer boas palavras toda vez que via meu reflexo no espelho até aceitar este corpo como um barro que anda - todo barro que anda é santo
foi na diferença de minha vírgula na terra que aprendi a aceitar e amar que me fizeram acolher o céu nublado com tamanha facilidade: vamos dançar a gratidão de cada gota



                       por isso toda vez que perguntam como estou digo que chove

 







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