quarta-feira, 28 de maio de 2014

crepúsculo é um anel disse a criança
antes de entrar um mendigo falou:

 "um dia você estará em Harvard, não conte seus projetos aos outros pois nem todos que sorriem para você é seu amigo"

me cumprimentou e saiu acenando e gritando: vai mão de pedra, vai mão de pedra, vai mão de pedra
olhando pra traz procurando meu olho até me perder de vista

mesmo com o sol as gotas não estão se juntando umas as outras no vidro
talvez venha muito mais

gentileza gera gentileza diz o chaveiro

ações práticas 

idealismo: nuvens que impedem de ver os pés

primeiro as pessoas depois as coisas

Baudelaire: " te falo de trabalho, caridade e desfazer-se do ego"

portão aberto, aberto com uma faca, um pano protege da chuva
não temo nada nada temo

me livro de querer voltar ao útero e de dizer novamente
Deus me envie uma cueca limpa 

CABO ANTÔNIO 865 OURO DATA 11117

estou com a criança acoplada ao pescoço e ele está enorme e caberia mais três dessas nele e eu permaneço aderido com pernas de pau produzindo uma estrada respondendo à todas as perguntas lambendo todos os musgos do quintal e com os das palavras me alimentando reinventando o mundo com as sujeiras de minha unha

completarei essa colcha de retalhos mandando correspondências à minha infância
hoje será um dia de ilusões equivalentes às da camada de ozônio à da revolução atômica e a nossa concepção de corpo
equivalente à uma cosmogonia qualquer,  à geografia e à psicanálise e à qualquer outro mecanismo de gerência

hoje me darei ao esticamento

Há um balde virado fincado num cabo de vassoura e uma toalha por cima
isso substituirá a escola no dia de hoje

:poderemos pintar até que a tinta acabe como tudo na vida
esse será o conhecimento adquirido:


metafísica da mandíbula

hoje é dia de exercer a fome em prol de qualquer alimento que por si se diga e arrume a casa com tudo que é antigo e meu nome será um elogio à contradição no final desta tarde. não sei nem como cheguei até aqui e como as pessoas do círculo inventaram tantos nomes para não suportar que boiam.
até a arte é algo tão chato que preferimos ficar em casa colhendo os frutos de uma dislexia pois esta é uma capacidade real e nem se mede aos simulacros da porta pra fora.


eu grito e esse vazio responde
essa é a única música que levo a sério
  

acordei com a fome
apetite de meus devaneios trabalhando e fiando a atração de meu destino

acordei e com isso assisto meu nascimento no fundo de cada palavra
cartas à infância escapulários e amuletos sonoros
que hora rasgam e hora fixam o tempo

vejo um menino senhor disso tudo
 arrebatado e colado por um ventre submisso e maior que ele