terça-feira, 23 de junho de 2015

Ventrais






corpo-templo-vento: o entre do vento = ventre

galáxia



segunda-feira, 22 de junho de 2015

Dignificação da criança abismal

Anunciação próximo ao vão

Largo da batata...milhões de sonhos
                                                           e um cachorro uiva na noite

domingo, 7 de junho de 2015

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Doeu o peito, ao sair pela porta, vago. O menino atmosférico que andava pela noite de sempre, na rua, foi visitado. Na laje – lugar de seus nascimentos fora da mãe, diante de outra mãe – ele foi dignificado, dormindo ali nas energias lunares, nas fagulhas distantes e na luz própria da terra. Ouviu o coração e sentiu que seu sorriso seguia a linha da serra-abraço. Somos uma estrela, o menino conseguiu dizer. E é como se agora, só fosse possível dizer desse menino e todas as palavras dignas só partissem dele. Sinto que se inicia rua a fora, a sua dignificação. Isso chama-se encontro,  presença e apelo.

E um Bugiu canta  nesse frente a frente.


Devaneio


Estou no mato em Pernambuco, vou se tivesse uma câmera boa. Faço desenhos com terra, desenhos com a natureza – objetos naturais. Ouço dizer que minha arte é baseada no registro. Após mandar fotos para os outros, sou convidado a mostrar meus prazeres. Sabem do poeta. Sabem do poeta de acolhida que pensa a casa e a terra.
- fui lançado a isso vendo as crianças dançarem na poça de lama e o desenho de uma casa que desenhei com terra se esvair na água da chuva – fui raptado pelo devaneio por isso: devaneio trampolinado pela realidade.
- agora o devaneio é findo e nessa perdição penso nas inúmeras possibilidades da vida – visitei uma lacuna.

- nessa zona lacunar visitei vida, sinto que algo foi expandido e esticado, deixo esta substancia tomar meu corpo no sendo do Ser – descanso e acesso uma saúde cósmica; confiança e fruição me visitam. 

Para os rugidos do leão,



Falar-lhes é falar de um tempo sem relógios – os cheiros e os sons e as luzes que ditavam o tempo nesta presença -, aliança cósmica através de meus sentidos: se lhe ouço até hoje nas madrugadas – implacável terceira badalada -, é no fim da tarde que sou resgatado para quando o estremecimento de seu som anunciava a hora de voltar para casa: chão tremendo, revoada de pássaros, cheiro de café fresco e de bolo de fubá e rodízios embaralhando os fatos de minha vida. Cosmo-estação onde o sol ditava o tempo de meus passos pelos terrenos baldios – pés atolados em minhas primeiras estadias, o barro era visitado como visito a mim mesmo agora.
Sua velhice e seu cansaço urgem o vivo-no-vivo de minha vida - acesso a via onde ela passa - e nisso digo que fui iniciado. A dama da noite, estou atrasado caçando as palavras para dizer quando chegar em casa, no pânico de um menino-sempre-depois-do-tempo/antes do tempo dos homens, atento a uma outra contagem, a dar satisfações a uma outra mãe. Nisso uma admiração me toma: será que eu só pensava na hora; busco o que se pensava em mim, sempre depois do tempo dos homens, sempre antes. 
Dignifico aqui este tempo cósmico, aliado aos cheiros e sons que me cercavam, pois eram eles que me regiam e isso é a única coisa que posso, de corpo, lhes dizer.
Junto a este ser sonoro e olfativo, pequeno, masque vibrava nessa integração, me despeço, agradecendo-lhes por cada encontro!
Do sempre seu, B.P.

Para Cerqueira Cézar, Friebolin e Homero,


Amigos, vocês foram lugares de poucos elogios e é, sem muito pesar que, depois de alguns anos de análise junto ao cigarro de palha, consigo lhes dizer com palavras o que meu corpo já dizia ao pular as suas grades, atraído pela rua.
Agora posso lhes dizer que este fogo(como as professoras apressadamente costumavam dizer) é um fogo íntimo e hermafrodita, objeto-outridade habitante de um menino isolado que o hospedava. Porém, se trata de um fogo natural e potente e é ele que faz os corpos se abrirem. Talvez valha lhes lembrar que a arte, assim como a comunicação de um pensamento/prazer, abre um corpo por esse fogo, mas como um bem maior que o Fogo do fogo.  É somente através dessa abertura dos corpos aquecidos por esse Fogo – possessão dos corpos por dentro, jamais pela frieza do fora – que um real encontro pode acontecer e através dele, algo pode ser partilhado/comunicado e apreendido, como num ato sexual ou sensual.  Agora, e só agora, consigo ver que, na frieza dos mundos emparedados em salas de aula, era isso que não sentiam, não aceitavam e temiam.
Mas consigo reconciliar-me com a era glacial da atmosfera de nossos encontros. Mas também por isso, vale dizer a vocês, algumas últimas coisas que me consolavam, junto à laranjeira da praça. Colado de nuca nela, acolhido, me mantinha longe de vocês, ouvindo palavras que me aqueciam, tecidas para que o Fogo jamais se extinguisse:
Se sabes desfazer fixo
E o soluto fazer voar
E o que voa fixar em pó
Tens com quem te consolar
Lhes canto aqui estas palavras, somente em prol dos meninos-fogo de todos os tempos, para que os últimos nascidos saibam que o peso do mundo pode revezar de lugar.
Adeus e até nunca mais,

B.Pastore 

Partilha

Encontro com um grupo de terapeutas no Centro Cultural da Juventude