quarta-feira, 28 de setembro de 2011

disse que trouxeram a onça de cima da árvore para aqui no zoológico de Guarulhos
demiti o poema

quis atirar uma pedra mas a Geni sumiu do mapa
um homem com câncer no estômago fugiu do hospital
num gostinho de tocar a questão da fé
uma linha toca a outra e se torna mesma

já não sou eu quem vive
é o inesperado onde a necessidade e a oportunidade se encontram
no cheiro dos meus antepassados
apresento uma reunião de prosperidade onde fui gerado


e nos vemos em Tadassana
lá estarei inscrito na parte côncava
e já havia dito

“do pescoço pra cima é só antecedente”

na mesa do chá com minha avó vi minha mãe velha
o tanto que tenho de catar
e em baixo tem mais

essa é uma lei que me persegue
lei dos garotos rudes, dos meninos habitantes de telhados, dos meninos que bordam, dos meninos que colecionam panos velhos e cumprem sua pena, dos meninos que não dominam a gramática - pora!, isso é o mínimo para quem quer escrever, diriam os estetas que não replantam árvores secas -, dos meninos que não escrevem por que querem e sim por que precisam, dos meninos que são o tesouro, dos meninos que alteraram a gênesis, dos meninos que colecionam pedras por onde passam, dos meninos de olhos de obturador, dos meninos que ouvem os pássaros, dos meninos varão de família rasurada, dos meninos autistas, dos meninos empreendedores, dos meninos langos, dos meninos gagos, dos meninos que carregam todas as ferramentas de palhaço, dos meninos que só enxergam com o olho da nuca,dos meninos que ficam nas rugosidades das palavras,dos meninos que abrem buracos, dos meninos ladrões, dos meninos que não acreditam em doença,dos meninos estrangeiros, dos meninos pais, dos meninos que sonham voar de balão,dosmeninos que acham o pai na teceira margem do rio, dos meninos que rabiscam paredes, dos meninos de manga verde com sal, dos meninos de sal, dos meninos que largam vícios, dos meninos bernardos, dos meninos de inventar brinquedos, dos meninos eternos e dos meninos verdugos.


!me lembrei que existe uma clareira, um lugar aberto, como um lugar à força, mas leve, como um lugar possuído, lá, todos podiam gritar o que estavam sentindo sem a presença dos soldados, até o rei sabia, mas ali era um lugar permitido, uma conquista, um púlpito desmedido para uma catarse possível, fora da jurisdição...lembrei, é um lugar depois da fronteira, alguns dizem que é na fronteira, mas não, eu me lembro, é antes ainda, depois que atravessa,
Um mundo micreiro foi construído ao redor
redução de danos

quando beber um copo de água for isso eu já terei lambido todos os selos

os moleques me perseguem
é um estágio entre meu dedo e minha unha
está lá
e na página que cair lerei aquilo que se inscrever em mim

se gostamos de pensar que todo homem é filho de seu tempo e que sofre de qualquer maneira de todos os males desse tempo, mais violentamente e dolorosamente que os homens mais medíocres, a luta do grande homem contra seu tempo se reduz aparentemente a uma luta absurda e destrutiva que move contra si mesmo





Aí caí e abriu-se a fenda
esse espaço entre o pezinho e o inicio das costas


e que em volta dele seja arrepio


para ser possível hoje

trabalho longe de escrever poemas

perto de um lugar dormido

abro este buraco e aumento

até o idioma intimo do meu destino

sou fenda de voltar para casa