domingo, 23 de outubro de 2011

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O futuro é sempre imediato.

Num caderno de poemas, ou num livro de horas, devemos, nós poetas, evitar o redundante.

No caso, poderia eu escrever “futuro imediato”,

Não! só existe futuro!

E muitas vezes, por séculos, tivemos que manter a rima, mas pensemos nesta falsa obrigação.

Mas hoje, nem o rap nos prende a isso, voamos como a música, não existe o poeta e a música, o poeta e o canto, só existe a música, só existe o canto.

Ângela Castelo Branco: a censura jamais deverá ser maior que a música.

OBS: na sessão de apócrifos, não esqueça que é o que vinga, é participar, aí é vida.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

na noite uma rua entra dentro da outra
rente ao ouvido tudo se emparelha à uma pretensão
uma responsabilidade que interroga lambe arranha e plaina todas as palavras

testemunho o nascimento do rio

sábado, 15 de outubro de 2011

Devemos evitar poemas que dizem da casca.

O poeta integrado toma atenção de tudo que pensa
fala da mente:

ex. : percebi uma ligação
Pensou = pediu
Falou = concretizou

Tzara – o pensamento se faz na boca

Meu xará Giordano:
Há uma continuidade entre as idéias, as palavras, os símbolos e as coisas concretas, os objetos e as substâncias e os seres vivos. O mundo das palavras não é para esta forma de pensar, descontínuo com o mundo das coisas; havendo comunicação entre um e outro ter-se-á forçosamente de admitir a possibilidade de através das palavras se provocarem alterações no mundo físico. Caso contrário, não se poderia com uma palavra interromper uma tempestade, ou com dois nomes escritos no papel um contra o outro fazer separar duas pessoas que se amam. Antes de operar tais efeitos, porém, é preciso observar a natureza e conhecer em pormenor as leis que regem o movimento das coisas, como a atração e a repulsão de vários fenômenos.

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EU marginalia, cometo alguns crimes médios, em alguns fichamentos que miram o cimo - palavra que o polimento não reconhece:

Observo a natureza e seus movimentos

- Aberto aos flagrantes do tempo, o paraíso demite as horas e é sem interrupção.

(duvidar)

Evitar a palavra poema, pois se o poema voltasse a sua origem(função original) ele seria:

relato

Visão

Experiência

Registro

Desígnio

Sem “quem dera”, o poeta sugere afirmando (a Firma, firma)

Ex: extress não existe,

o poeta supera e propõe uma visão, um delírio, uma miragem – CASA DE HABITAR – constrói uma morada em construção para si e para os outros. (cuidado: quando a artesania vira madura e perde o susto, o maquinal vence =– > da terapia das horas em sua ranhura)

Nosso tamanho: presencio fenômenos mínimos

Árido dia, de Luciana Tonelli:

Concentro.
Retenho.
Respiro este dia.
Seguro o alento.
Agüento.

>>>>>>>>>>>>>>linda união com o cosmo, união/relato que nos faz viver sem infortúnios (agüento) agüentar é controlar o foco da lente objetiva.
O poeta deve propor esse tipo de fotografia, contemplar a saúde do ser, assim, nesse estado de contemplação contínua, estando nele, propor aos que lhe consultam, estratégias para chegar nesse estado, numa saúde do/de ser e, nessa inversão, ir oposto aos noticiários, as revistas e aos blogs de informação,

(in-formação, soa oposto de formação)

- sabe-se que ler um poema é o oposto de ser informado

Presencio fenômenos mínimos: Meteoro é um resíduo que entrou na respiração da terra!

Na atmosfera, entre a nostalgia e o pressentimento, sobre a arte da memória:
Um dos elementos fundamentais da arte da memória é a noção de que a memória funciona de forma espacial.

Eu que vi que tudo é água, que ouvi que o inconsciente vasa na atmosfera, pergunto, se isso só acontece com a arte de memorizar?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

a felicidade é um músculo

como areia escorrendo entre os dedos

com um legado

leio além do que existe como impressão

- posso entender, um dia, isso de outra maneira –

mas sei que existe um lugar

e nesse além me leio

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

em um outro Bruno

"Acrescentemos ainda que é assaz verossímil que todas as doenças sejam maus demônios: pode-se então, através do canto, da oração, da contemplação e do êxtase, expulsá-los da alma - ou, através de práticas contrárias, convocá-los".

Giordano Bruno em "Tratado da magia".

domingo, 9 de outubro de 2011

medicinal do dia - como abrir uma janela de manhã

isento de pecado e das vocações

roubo ameixa do vizinho

tenho pêra doce em casa

muquio a bola debaixo do paletó

prefiro unicórnios ao invés de cavalo manso

aqueço todas as entidades

não resisto ao destino da alma

não me aflijo com mudanças materiais

sou livre da minha mente



vivo numa casa que se impõe como ser

casa de janelas altas que vem dos sentidos ao espírito

e tudo respira leve

se percebe dentro

num pertencimento que caminha sutil

e não pipoco

sou presença

sábado, 8 de outubro de 2011

Num caminhar com um amigo de infância, cruzamos a cidade e fomos parar nos desenhos que eu fazia nas carteiras da escola. Segundo esse meu amigo – que sabe de mim, coisas que distraído esqueço – eu fazia esses desenhos em tudo que aparecia na minha mão. Sempre fui aficionado por favelas e sua diagramação no espaço. Isso se agravava em meu inconsciente e transbordava em desenhos distraídos – quando falava ao telefone, enquanto conversava com alguém – e também em desenhos objetivos. Cheguei a fechar várias mesas inteiras só com barracos feitos de quadrados com janelas e portas, garatujas formando as escadas e os espaços vagos, em branco, eram as vielas que faziam a ligação entre as moradias deste acúmulo interno. Pensando bem, desenhava mais verdadeiramente naquela época.

Hoje fomos à Brasilândia e lá revisitamos estas imagens.
Desígnio?

De volta ao centro, as paredes tomaram férias, um cheiro muito forte se acrescenta a esse centro, parecia um galho, mas era uma árvore.
Se não for desígnio, não sei de onde vim.
Um futuro filosofo você diria, preta de cabelo possuído, mas estou tão próximo que a prática me eleva a um fazejamento justo.

Hoje conheci um homem que mora na travessa de uma jaqueira. Ele construiu uma casa dentro de uma pedra e dentro da casa que ele construiu e mora, tem outra pedra. Ele dinamita pedras com fogo e água fria, cria seixos com choques térmicos, usando-os para fundamento da casa . O argumento de sua construção é, que viu um dia na TV, um arquiteto que construiu uma casa na pedra e pensou que poderia fácil, fazer o mesmo.

Foi impressionante ver como homens habitam pedras e as controlam, me deu uma inveja, uma ânsia filosófica me tomou e tudo, frente , atrás,direita e esquerda se tornou futuro, como no primeiro livro que li.

O contato com uma água viva é doloroso e queima, pois é um alargamento que come todas as palavras. Quando o indizível reina, percebo o que tenho coagulado. Pois eu poderia contar para um amigo simples o que se passa, mas não bastaria.
No trabalho de esculpir no tempo a eternidade, me suga ver germinar em tudo, um rastro de planta saída da fresta, cantando o céu, como um desenho ou um texto, que só podem ser reais, se forem o idioma íntimo do destino de seu autor.

É nesta lei que habito sem uma regra, participar é uma palavra que cabe, não me isenta e nem bifurca para uma fuga, mas cabe bem nesta imagem deste semelhante, que se espanta e se impõe comovido só por habitar as coisas, como a si próprio.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

a cidade rola num espiral de folhas amarelas
sob o como sempre arrasto minhas sandálias
estouro como uma pipoca

uma abelha veio e colocou mel no meu sangue pela minha boca
um unicórnio colocou a cabeça no meu colo e leu a consciência das palavras
agora posso prometer que ficarei sorrindo
prometer comoções na minha carne ao ver o seu corpo
pois isso são graças, graças raras

psicanálise do fogo



de onde vem a fala

ancestralidade

amizade, a inominada presença nos rodeia


pipoca

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Esparramo meu nome por todas as sopas de letras pela cidade, em todos os gatos, em todo caminhar pela feira com sandálias de couro na imponência de uma só experiência em toda experiência, contrário à ausência - que é o único pecado do espírito, o pecado de olhar uma pedra e só ver uma pedra. Na presença é como moro. Aí é onde devemos morar, aí de fato moramos. Não são várias experiências, todas fazem parte de uma só experiência.

No contentamento desta noção de que não existem vários problemas, sim um único problema, as coisas e os acontecimentos fenomênicos se tornam sopros contínuos. Para converter este sopro aparentemente de fuga em um sopro de vôo, vale retirar o limbo daquela maltratada máxima: “Tudo que não me mata me fortalece”. Esta admissão que vem de uma postura anterior ao olhar, elege um olhar marginália, oposto do que vê cereais e enxerga cereais, oposto do que vê comida e enxerga alimento para o estômago, sim um olhar que come e só de olhar se sacia, um olhar que não resiste e enfia a mão nos cereais.

Não resistir e viver a prata das coisas é um estado – existem lugares, geralmente perto de Deus ou da loucura, que homens afirmam que este estado é o nosso natural e, que o resto é blindagem – de conquista, como uma fogueira que vai queimando a lenha lentamente, ganhando espaço, cavando sua marca na terra. Mas fundado este estado, onde um clarão de eternidade cai sobre a terra, permanecendo nele, se torna fácil e doce afirmar: “se eu não vivesse uma tragédia, seria como se eu não vivesse”.
Compartilho esse sopro medicinal:

ando por terras escavadas
e sob tudo que escama
com formigas nos dentes
permaneço no elemento indefinível
na inominada presença que me rodeia

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Eu não consigo fugir do que de fato é minha missão, anulei meu ego chegando na beira do nirvana, num alto astral, numa saída para a realização, como no fim do poema amizade de Paz ‘’ a inominável presença rodeia-me’’.
Como não, ouço agora uma procissão de pedreiros que edificam, descendo no alicerce, entoando glossolalias que ecoam no quintal entre o muro que está se levantando e a janela. Eles estão descendo no gozo da folga, deleitando o < para si >.
Isso pinta o que está inscrito nas paredes deste lugar , sua única finalidade é o regresso e habitá-lo é ter tudo.

“tenho tudo” é frase de escrever , pichar com x, pela cidade

Frase de nascer não pela própria força, mas de nascer como biologicamente, frase de afirmar o lugar de noção de que a vida me pôs ao mundo, nada fiz e por isso, nada tenho a temer.

Consultei um oráculo

Resposta de Llansol

``Uns sentaram-se a mesa, outros levantaram-se da mesa
todos eles me atravessaram –
Espero que, algures, tenham um jardim a sua espera”

Interiorizei isso escrevendo ao lado de uns papéis colados na parede, juntando com o que já tinha, tentei uma cena fulgor, que diz do lugar que habito e como habitar este lugar – aqui moram vestígios de uma poção, uma conquista que é a mesma de chegar no estágio de ao invés de falarmos “ele morreu”, dizer “ele venceu” – e essa tentativa trago para o prazer, para o sexo de ler

Feito de vazio
a mente me desabita e apaga meu nome e o que sou
já sem mim numa existência pura
empreendo levar-me pela força de toda força viva
raspando a tinta
refletindo em tudo que aqui e agora existe
como um espelho vazio

Umas sentaram, outras se levantaram da mesa
todas me atravessaram
atrás do rio que já tem nome
oposto de mim
me vingo num jardim à minha espera






fico depois da precedência, no E símbolo de desdobramento , na cúpula, nos verbos de ligação, mirando atravessá-los.

Peso!

http://luisfelipequintal.blogspot.com/

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Qual lado?

Lado Antes
Um homem resolveu sair sem tirar sua roupa de trabalho. Fiquei naquela cor de sangue amarelo, num degrade de pulsar, nas botas de borracha suja, nas marcas dos seus ombros e nelas vi gravada, onde ele apóia os pedaços, a carnificina de seu expediente. Vi ele deixando um rastro vermelho no chão, chacoteando os companheiros em voz alta, assobiando, segurando pelo gancho, levando as peças do caminhão até o fundo do açougue, raspando sutilmente no chão sem ninguém ver. Sim , carne era o que não faltava ali, queria, estava presente em corpo e com aquela cara – careca, olho fundo e irônico e aguado, magro e alto, tinha um nariz que cobria a boca, facilmente tocaria a ponta com a língua, como artistas, palhaços e anomalias de circo de horrores, ou amigos disputando habilidades poéticas num bar, ou um avô no auge de seu amor, levando a meia dúzia de netos ao delírio e as tias à indignação, na mesa, em pleno almoço de domingo –, sabia o que estava fazendo, no seu jeito estava uma fala, o que fazia era algo que a muito tempo já deveria ter feito, só faltava coragem. Assim atravessava na busca de uma fresta. Todos se espantaram, aquela intervenção na sua potência, abismou tudo.

A imagem do embarque na linha vermelha fala por si. E ele permaneceu.

Na tentativa do relato está um ônibus abandonado no meio do Alasca
me aproximo dele catando cavaco como quem se recupera de uma surra
e habito este lugar
que se faz quando está com fome

- isso poderia dar uma pergunta, mas na fome o blog do Luiz Felipe Racho é mais justo-

Carrego meu rifle
Afio minha faca
Separo as ervas, daninhas para esquerda e assim por diante

Não, não tem véus em jogo, tudo me reverbera nesse ato suicida
Cadê ele
perguntariam do universo paralelo e metafísico que finca seu pé no chão carnoso


Aqui ó
lendo este vínculo que é o da voz do canto
cuidando do vento que venta da minha boca
e dos reflexos daquilo que riacho
sem espanto percebi uma conjugação pra borrascas
nos livros de Adail se refaz o mundo:

tudo é reflexo da minha mente