terça-feira, 8 de dezembro de 2015

sarau do quintal: Capão







rosto a rosto olho no olho entre



Buraco-pórtico para a verticalização do horizonte








atravessia 








capão redondo


Fotos Jeynis Guimarães

sábado, 5 de dezembro de 2015

Litoptico





comunidade franciscana





















Fotos Pri Mastro


domingo, 15 de novembro de 2015

o oco:  manchas sem contorno que
se movem  -  cacau e zinco  



                                                            

domingo, 8 de novembro de 2015

DIA(G)DRAMA de ARTAUD





criança vindo do caldo da cagoeira
largo da presença de um pano ralo esticado








uma chuva cai lá fora e aumenta o ritmo

Nisso

três orações sucessivas para a suplantação do tempo horizontal(diz em horas) e acessar o ativo repouso da poesia instantânea de um tempo vertical-lírico (sem o eu) e rítmico (dança música-vinda):

1) habituei-me a não referir o tempo próprio ao tempo dos outros - quadros sociais da duração foram rompidos.

2) habituei-me a não referir o tempo próprio ao tempo das coisas - quadros fenomênicos da duração rompidos.

3) habituei-me a não referir o tempo próprio ao tempo da vida - se o coração bate, se desponta alegria ou alergia, pouco importa - quadros vitais da duração rompidos.

nisso, sublimar

o apelo-arte não é o último recurso da tendência sexual.
aPelo-contrário: a tendência sexual já é em si uma tendência estética.

nisso: a sublimação ativa de todas as tendências

Nisso,
a tarefa de fazer no si mesmo a psicologia do criador em uma tentativa inovadora. Não um deus cansado, sim um mini deus atleta de várzea.

a função individual é enganar-se

E nisso, a leitura levinaziana em nós é um delírio que não deve ser deixado.

o erro não pode ser continuado sem dano

o sucesso não pode ser contínuo sem danos, riscos e fragilidades:

Nisso: mutilados passam a ver por multi-lados

A fra gi li da de deve ser intensificada

 o homem roubado nunca se engana, se diz em arte

ir do estado camisa aberta e samba da danação ao estado descalço do primeiro nascido numa inexorável saúde cósmica

e nisso, a noção evolucionária é ondulatória
                                                                                                                         Enxofre
 nisso a aranha , o oito deitado, a carta da justiça, zona mercúrio, o entre <  
                                                                                                                          Sal


ao caos dos acontecimentos e das matérias








D E V A N E I O







Devaneio

11 -      Caixa arquivo com fórmica
- mandar fazer
-achar uma mesa e fazer a mão
- forro igual meu primeiro caderno – fantasia de carnaval

(Cinta mãe, presílias e algo que proteja as cartas – suporte de papel cartão para as as pessoas tocarem: conservação –tempo * solucionar)

2 – Livro caixa
-fazer a mão
- pode ser de fórmica

(cinta mãe, dobradiças, presilha de fichário grande, madeira compensado revestido de fórmica, acolchoado/forrado como meu primeiro caderno que fiz com minha mãe = pedir ajuda a ela e fazer junto; *suporte para as cartas/ presilha de plástico; *papel cartão duro ; *pensar/ solucionar os textos atrás)

3 – Livro caixa fechado

- Devaneios imagéticos repletos de imagens que se sobrepuseram encavaladas, uma após a outra, criando uma sequência.

- Devaneio-vontade: solução disposta para a realização de um impasse da vida. Apesar de não haver a sensação de lembrança objetiva, funcionou como tal. (ver Bergson in lembrança do presente)

- Imagens naturais: fui tomado pelas imagens - num processo natural de imaginação. Só não foi mais puro por conta que foi impulsionado por uma reflexão( leitura de Schopenhauer  pag.20,).

- Devaneio/imaginação propulsora por conter ou por despertar desejo de manifestar-se vide uma necessidade material. Vale identificar uma dança que incerta a presença do desejo que hora está na imaginação e hora naquele que imagina. Pensar a utilidade(thelos)da visão devaneante assim como o receptor que atrai - capta- hospeda a imaginação.





Interiorização da ideia/noção de máquina: identificar o que é sentido


Desenhar é partilhar do processo do surgimento. Desenhar torna-nos aptos a uma maior facilidade em sentir o corpo, seus mecanismos-jeitos, ações e sensações físico-etéreas. Através do desenho é possível participar da criação de mecanismos, organismos, organogramas e organizações(via designer thinking, desenho de observação e desenho industrial). Este estar na base, antes do surgimento das coisas, participando do processo de surgimento das coisas, faz quem desenha estar alocado nas ondulações de onde as coisas e os seres brotam. Nesta manobra de ativar o vazio a fim de objetivá-lo( trabalho de tornar o nada – nadificativo - em objeto/coisa - objetiva), aquele que desenha frequenta  ritmos ondulantes. Uma substância só pode agir quando a sua matéria se torna nada, ou seja, quando ela volta a ondular. Aquele que desenha parece recolher-se para o estado de nadificação, onde a sua frequência volta à ante-matéria , ao anterior à matéria. Vibrando naquilo de que somos hóspedes e hospedeiros, ele modula efeitos, sensações e afetos que nos implicam a conceber a realidade( nada manifestado). Observador agente destas engrenagens, assistente desta organização interna, instalado antes de tais mecanismos em um ato anterior aos seus surgimentos - onde vibram as ondas sintonizáveis de uma água tecelã – o desenhista identifica com facilidade os estágios do surgimento  sensível-sentimental.


Por isso talvez os artistas estejam bem posicionados perante as questões terapêuticas. É a sutileza minuciosa de seu trabalho – de tornar visível o invisível - que  lhe deixa a par de realizar observações que nos levam a ações aptas a uma saúde cósmica. Frequentador do processo de surgimento, observador de dentro da episteme, aquele que cria(trabalho de mãos, pernas e boca) está apto a lidar com as sensações e sentimentos mais profundos.  Talvez também por isso as suas sugestões diagramam o mundo, sugerem desenhos interiores e arquitetam encontros com o Si, assim como com o todo e com um caminho. Talvez essa seja, e se é que existe alguma, a sua única finalidade: servir de meio para um por vir-acontecimento/situação ou coisa na realidade. Ou seja, estar a serviço da alternância - alteridade entre o mesmo situado, vigente e o outro vindouro, invisível e ainda porvir.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

domingo, 18 de outubro de 2015

bons devaneios e saúde cósmica





Percebi mãos de cura
um livro marrom é um bom companheiro

#


de madrugada, na casa, ouve-se um ruído intenso e constante: é um motor interminável que perpassa os cômodos e o tempo em sua constância grave. seu lastro aterra a presença de algo, instalando no corpo uma vibração. mas mesmo assim nada impede  de relaxar, está bem. porém, esta gravitação-corpo, os sonhos constantes e todas as reflexões que a circunscrevem como percepções, anunciam que a dispersão material é urgente e será inevitável para seguir  em paz, em frente. a carroceria solta a caçamba, nenhum vagão descarrila o trem, as cortinas tem trilhos fortes, e é sabida a importância de seus rodízios. incensos queimados  à gratidão de todas as passagens, e o giro da gancheta se cumpre.

Tecidos ancestrais:

Dourado: costurar os micro-objetos da lembrança se debruçando sobre a hierarquia dos objetos: abjetos, objetos – verificar o atrito dialético e a interseção-fissura nas coisas( de testa mesmo: testar coisas x objetos). Agradecimentos àquela que mostra o caminho(do hebraico Adail): pincel zero=pincel rezo = ancestralidade/raiz. Na arte: norte.

Usar galhos como suporte, evitando o quadrado fórmico e estéril da arte e suas medidas moribundas.

Deixar com que as coisas transmitam em si a dança silenciosa de uma música inaudita, porém 
existente, visível, diária e inexorável.

Fazer uma camisa com um deles, um colete com coisas penduradas

Véus: sobreposição velada de uma pintura-mapa de um corpo em carne viva – parece ser a única possibilidade de beleza em pintura.

Cinza claro: uma santa diagramada no centro sendo sondada. Aura e uma costura vermelha no centro. Uma beleza que destrói a morbidade já costumeiramente cultivada em arte.


Em qualquer um dos panos: mapa cartográfico com um ponto de situação escrito: estamos situados no ponto de avivamento.

Oracularização-acaso: como foi possível construir um livro chamado A Alegria no fronte de uma guerra?

Universo

Com o mar moldei-me
um ataúde de frescor

G.U.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

# encruzilhada: ao som de um carron modesto

Se de cada livro lido se puder escrever outro, a felicidade estará posta. Se de cada sensação de impedimento, for construído algo, aí estará posto um homem completo. Até as casas parecem ser uma construção daqueles que, ou por imposições alheias, ou por desejo, vontade e cansaço, foram impedidos de seguir e andar. Se diante de cada nervosismo e irritação, se puder parar, respirar fundo, escrever, criar e construir algo, aí estará um homem maduro e feliz.

Parar num tempo lentificado, substituindo a aceleração videoclíptica dos acontecimentos, por uma cena demorada de Tarkovski, já é em si um ganho de espaço. Um lastro nos afunda e nos  estende em vibrações que em esferas nos  alargam para as outras casas e ruas do bairro, até alcançarem os outros bairros e assim se aumentam sucessivamente, uma esfera seguindo a outra. Uma antena radiadora que emana as ressonâncias do momento. Dínamo e cristal se fundem num teste-teste-som- teste de um estado crístico comunicável. Prazer comunicado é arte.

Sim, é percebível que a palavra devaneio ainda é um ícone existencial por estar, em nosso tempo, preenchida de vazio e repleta de vacância por todos os lados, como uma casa vazia, abandonada a anos numa zona rural, ilhada no centro de um sítio também vazio e órfão de vizinhos. Esta palavra a ser reocupada, está presente no cerne dos atos mais frutíferos – frutíferos por estarem ligados a uma movença que alia o desejo da vontade “ingênua”, advinda dos rompantes incontroláveis e primitivos da imaginação, ao ato da realização material que se manifesta num pacto de dureza com a realidade espacial -, assinalando-nos que um ganha pão que realmente de pão para a alma e para a sua habitação, só virão deste estágio.

Independente de termos pouco, não termos nada para dar ou não darmos nada do que temos, o que temos de mais arraigado e certo são as imaginações. É visto que as imagens são inexoráveis, velozes, vem e vão à revelia e, em muitos de seus aspectos, são sequestradoras, dominadoras e até insuportáveis. Escrevê-las é o modo de suportá-las, dar-lhes vazão e dignidade de uma existência material dura e fixa na realidade. Parece que somente a escrita e a arte conseguem sustentá-la no estado de intersecção entre o natural da imagem-dentro, para o estado material de imagem-realizada-fora. A escrita é o estado da matéria que consegue conter em si o atrito seccional da imaginação, fazendo-se num recuo, que a faz realizar-se somente no estado de imagem-dentro, onde a sua extensão – entre o escrevente e o legente – é friccionada, sendo realizada e realizável no estágio gasoso da imaginação que foi partilhada, através de seu estado de matéria-livro. É como se o livro fosse um recipiente com diversas pílulas de gases que, após aberto e, conforme o olho vai passando por essas pílulas, elas soltam gases que são inalados pelos legentes que, conforme o seu estado de espírito e frequência, podem captar, editar e modular os gases e transforma-los em imagem que em seguida passam pela lente de cristal interna, que a projeta visível na nuvem de vapor. É por isso que, a partir de Giordano Bruno, que nos diz que a memória é atmosférica (lembrando que a palavra Atma ou Atman em sânscrito, vinda da palavra Amê, querendo significar Alma e sopro vital, são o equivalente a palavra grega Pneuma, que nos significa fôlego e sopro, sendo origem de pneumático, que se refere a tudo que condiz ao ar e aos gases), fica fácil associar um livro aos efeitos do ópio, da maconha e da mescalina, chegando a que um livro possa corresponder, baudelerianamente,  a uma espécie de paraíso artificial, pois as suas alucinações imaginárias provocadas pela leitura, são resultados de um (arte)fício.

 Vale dizer que este artifício não é de qualquer ordem. Para fazê-lo, a saturação de cada átomo, a eliminação de tudo que é resto e supérfluo, a inclusão do absurdo e do sórdido em todos os momentos e fatos tonalizados, mas tradados em transparência, assim como ver vida no vivente e o vivo no vivido, é o que nos indica Virgínia Wolf. Este mantra receituário, seria para fazê-lo sem deixar de atingir uma espécie de fonte sagrada, onde fazer tal arte, é viver na via onde a vida passa antes dos acontecimentos, estando no seu brotar incessante e genuíno, antes do vi(ver) que é a vida. Com esta noção, que poderia ser similar a de um cientista que frequenta tudo microscopicamente, e diz como que de dentro da essência das coisas, pessoas e fatos, podemos ter novamente um artifício mais real que a realidade. No cruzamento entre estas duas noções(Real e realidade, ou poderia ser mundo e planeta) tudo se engravida e pari uma criatura com a face esculpida e encarnada destas duas noções, contendo em sua forma-rosto, assim como em sua genética óssea e estrutural, as características genitais destas duas partes inconciliáveis, porém incondicionalmente juntas. É como se asse artifício fizesse o ajuntamento em si do que já é junto e fizesse isso num escancaramento daquilo que é (re)ajuntado, dando-lhe lastro, duração e permanência, como um sopro de vida que o faz erigir-se no espaço.

Voltando as imaginações, a noção de dentro e fora nos fazem pouco ou nenhum sentido – a não ser para alegorias pedagógicas  - , assim como dizer que a imaginação não é um processo físico-material seria cairmos num esquecimento velador. Talvez devêssemos dizer rapidamente sobre os inúmeros estados da matéria que, do gasoso da imaginação até a solidez espacial, podemos verificar uma infinição de formas.  Mas não, pois além do risco que temos de se ater desnecessariamente a questões formais, suas manifestações trazem em si uma infinição ôntica(que nesse caso significa como o princípio projetante se presencia ou se revela no sinal artístico) e formal que seria impossível enumerar agora.  Falamos até agora de cadernos e livros, que através do fluxo de uma escrita ou de um desenho líquido, podem se deparar com estados gasosos(imaginação alucinante da leitura), sólidos( esculturas, objetos e construções arquitetônicas) e virtual(pintura, vídeo, impressões em geral e a própria leitura, pois o virtual envolve todas as anteriores).

Enfim, sentimos que algumas das imagens devem ser honradas com a dignidade da dureza material. Pois sentimos vir de nossas imaginações – nosso único, maior e inesgotável bem -  a fonte da prosperidade e das sugestões que nos fazem emergir das pilhagens depressivas da vida, do mundo e do cotidiano. O caderno é a extensão da nossa psique, é um estágio da realização material no espaço. Ao visitar Tadeuz kantor, somos visitados pela noção de que, ao contrário do que pensam, ele não é, nunca foi e nunca será uma máquina. É sentido que em sua luta incessante, em seus mecanismos criadores e em seus dispositivos, é ouvido justamente o contrário. Todos eles não passaram de artifícios bem estruturados para nos lembrar em auto e bom som que não somos uma máquina. Foi ele quem verificou a matéria de tudo que lhe cercava, como um catalogador de coisas e com isso dignificou tudo que pairava abandonado pelo chão, como palavras, pessoas e fatos, dando-lhes a voz de um escancaramento.

Se visitei Tadeuzs kantor,  Tadeusz kantor me visitou. Com isso só posso dizer que Tadeuzs Kantor não é uma máquina, nós não somos uma máquina. Não podemos ficar nesta noção existencialista de que somos máquinas desejantes e seres abandonados aí no mundo. Se caminhamos pela praça, a praça caminha por nós, para nós assim como caminhamos para ela, com ela e ela conosco. Assim saltamos de um parque onde o homem se encerra como uma máquina desejante para o aberto da participação num mundo repleto de oblações, encontros e alteridades as quais uma máquina encerrada na vontade seria incapaz de permanecer sã. Visto que, em kantor, juntar coisas – objetos eleitos ao acaso, transformados em biografia adentrando-nos como objetos biológicos, fazendo parte de nosso cotidiano afetivo, assim como fez parte do seu, que seguem tocando a nossa casa-mental-corpórea -, é uma verificação do pouso, permanência, estadia e duração das coisas, assim como uma verificação das transições dos estados das coisas: de simples coisa no espaço, para a noção de objeto, se verifica a hierarquia objetiva das coisas, as matérias sem objetivo, objetos nutritivos e abjetos que podem virar nutrientes na mão do artista-poeta. Nele, com seus escritos, desenhos, esculturas, performances, pinturas e peças teatrais, tudo faz parte dos estágios da imaginação, hora líquida morna e lânguida, ora quente borbulhante e gasosa, até a solidez fria e dura da matéria. E tudo nos serve assim como servimos a tudo na mesma medida, desfazendo, revendo e reconfigurando as hierarquias do mundo onde o ser humano se coloca como um ente superior aos outros.

Fazer do olho um receptáculo, nos transporta para estar nos estágios iniciais da imaginação - situação comum a todo artista que se antecipa à todo o seu trabalho artístico que é o da simples feição de coisas: uma espécie de fazer coisas para passar o tempo que é equivalente a suportar a vida sem sucumbir ao sentimento de estar-aí-abandonado num mundo que, colado e inflado à frente dos olhos, jamais se esvazia, sem dar trégua e espaço vazio. Se é que temos arte, a temos para não morrer com a verdade, para darmos dignidade ao terror que é estar vivo nisso que não sabemos o que é, e se nomeamos, é novamente por uma manobra artística que, através da palavra humana, encontramos para forjar segurança e dignidade a isto que incondicionalmente nos arrebata em mistério -, verificando suas agências que fazem funcionar os mecanismos anteriores ao corpo e a imagem. É uma estadia anterior àquilo que move o corpo, assim como é anterior ao corpo, aos desenhos, escritos, anteprojetos e projetos, coisas, construções e objetos. Ganha quem conseguir fazer isso sem assassinar em si o poeta-santo que só aprendeu a cantar rente a tudo que lhe diz frequenta-me.

Kantor, em nossa visita, sob o signo da clandestinidade e da ilegalidade, me trouxe o livro “A construção” de Kafka. Ao som de um acaso-objetivo a realidade executou a sua dança, foi lindo vê-la e inevitável cantar junto ao carron do peito que se acelerou no pré-furto.

E de kantor uma oração foi tomada:

A vida foi reorientada
a  arte e os encontros acontecem lânguidos e lentificados
                                                                                           e o espaço é ganho
devaneio e as percepções são  realizações de imagemas*
os laços biológicos, psicológicos e semânticos foram relaxados
energia e expressão se perdem
estamos situados num vazio
                                          a qualquer preenchimento
habitamos um corpo-imagma






- *imagema é a imagem que pretende aliançar em si as palavras imagem, imã, magma e gema como cola e liga 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015


A construção - Kafka: casa e veículo








pedro na temakeria



permanecer na criança: pista pública de skate de dedo
O desenho-texto nunca se queixa por pai ou por mãe
    

deus está sorrindo
é visto no rosto dos mendigos

ferros contorcidos na descontinuidade
sulcos na esfera

uma manobra a mais e os rumos dizem

permanecer aí basta



Um timoneiro disse que sob o efeito do ayahuasca ele pode ver a integração do mundo e que só iremos evoluir quando todos tiverem a voz e falarem por igual

Dioniso é um deus que só se manifesta se todos dançarem juntos

já aconteceu a todos nós, diante de um espetáculo novo, perguntarmo-nos se já assistimos a ele
Lembrança do presente e memória de futuro

E o nosso destino e a nossa realidade de agora tem o cheiro dos devaneios de quando éramos criança
poeira de futuro é alma

seguimos no faro de todas as antecedências 

Visita

:um estágio da memória


Mechemos com a matéria da casa(objetos biológicos), entramos em contato com a nossa memória(energia atmosférica) e ficamos desnorteados. Estados que supostamente – suposições de uma vida diurna – são paradoxais e contrários, se juntaram e se tornaram contemporâneos. A vida e a morte, o passado e o futuro, o novo e o antigo se mesclaram causando uma suspensão psicológica - perca da noção estabilizada do tempo e do espaço - onde fomos arrebatados por uma espécie de incompletude do sujeito – noção real e constante, mas que tomou gravidade por sua extensão ser percebida de fronte no decorrer dos acontecimentos. Estivemos em contato com o ser e pudemos confessar que isso nos desestabilizou e nos atordoou tonteadamente. O sujeito (eu) catou cavaco e nisso recuou perante a passagem-lastro daquilo que permeava. Sentimos o dizer de uma hiper-presença e que uma inominável presença nos rodeia.

.

uma casa numa árvore que anda




Embeiçamento: escritura e desenho imbricados
natureza nua, a pura visão
passagem aberta ao inato: um desenho-texto nunca se queixa

ele é uma operação cirúrgica: ferir, costurar, cicatrizar, curar.

Subjétil

Na cogestação do objeto perseguido: entre o jazer e o lançar.

Foi depois de sua pintura se desprender da parede que resolvi aceitar que este dia eu estive esburacado. Uma rolha tombada e manchada do vinho que bebemos três dias atrás quando saudamos as fitas cassete catalogadas por minha avó, uma a uma. Estendemos a colcha necromãntica e ficamos lendo o que devemos fazer para dar uma boa sugestão de mundo.Mas só hoje estive rente como se entrasse em digestão. Talvez por isso comi e comi tentando tapar este buraco e no desejo de não ver que ele era sentido no estômago, mas de uma ordem ontológica, gastei uns trocados na máquina de ursos de pelúcia: sempre uma garra frouxa que desce mas nunca fixa nada, pega  mas sempre escapa. Hoje foi de cerrar os olhos e isso me tirou das distrações possíveis, pois tropecei duas vezes no mesmo lugar. Ter uma pergunta onde a resposta teima em não obter matéria e lastro é muito grande. A lembrança de seu presente é uma franja sobre o futuro e me suspende a cada tentativa de suprimi-la em resposta dada. Esta é a inquietude e esta é a dor que faz beber sem sede.
Troquei ser reconhecido por realizar um bem ao maior número de pessoas e senti que a gancheta andou uma casa.  O último a quem fiz a mesma-pergunta-única de sempre , me disse que bastaria me dizer, para responde-la, que o poder informador dos materiais transmitidos pelos órgãos dos sentidos, o poder que converte em objetos precisos e determinados as vagas impressões provenientes do olho, do ouvido, de toda a superfície e de todo interior do corpo é a lembrança.

Está na lembrança, venho sondando as suas possibilidades sem cessar. Talvez por isso, toda vez que penso em colocar a nossa aproximação e o nosso frequentar-se em risco, o meu corpo vibra, tremendo como se quisesse se desfazer perante a colagem do espaço-tempo. A lamela do tempo passa cantando sua canção fria, mas por enquanto insistirei nesse ponto. E toda vez que pensar em mudar de casa, mudarei tranquilo, pois o barro sempre será o mesmo. O habitante da origem jamais abandona o lugar.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Venta
e esta palavra honrada conquista o inútil
na porta que range - noção de mundo -
a morte contemporânea a vida
grau zero ou antes

e cobertor é um ente bifurcado que aquece o invadido

quinta-feira, 30 de julho de 2015








A mãe canta entre os desenhos antigos
a casa é a moradia dos rueiros
o sol e a lua estão na mesma régua
e não se pode lembrar de tudo

se a criança é vista no cerne de todas as ações
varre-se a casa na gratidão ancestral
na condição inaudita dos lenços bordados e da poeira sobre todas as coisas

 nada irá resolver esta transexualidade ontológica
e nesta antecedência perpétua
 cantar junto a isso é o que te dará tino 
Sondo a influência destes desenhos em meu destino/realidade no agora

O mundo que eu habitava enquanto fazia aqueles desenhos nas mesas de casa e da escola, compulsivamente, quando era menino

a energia devaneante(água+fogo=vapor) é responsável por atrair a matéria que me cerca no agora?

Hoje trabalho nas encostas ocupadas, são encostas com casas como aquelas que eu desenhava, por mais que eu tente desistir, sou levado a trabalhar em lugares como Suzano, Perus, Brasilândia, Jd São Luis, Cachoeirinha, Jova Rural e Morro da Providência, entre outros, que remontam aquela paisagem íntima que eu era, incondicionalmente, obrigado a exteriorizar. Vou dar oficinas, propor vivências, falar sobre arte, comunicar meus prazeres e partilhar meu chamado.

Sempre me admirei com as construções irregulares nas encostas, e durante um período de minha vida, eu quis morar ali. Cercado por essas aparições, desenhar talvez fosse a forma que encontrei, quando criança, de dar conta desses espantos.

 Toco o sujeito puro que fui, aquele que desenhava, antes de saber da palavra desenho (que vem de desígnio, do latim designare que quer dizer “decifrar as estrelas”), mais perto do Ser que agora. Toco este centro energético de múltiplas irradiações, este ser puro que estava mais perto do Ser. Estou numa matéria abissal hesitando entre o ser e o não ser.

Aqui sou o limite de minhas ilusões perdidas.

(Ver o documentário sobre Max Ernest – a partir de 01:02:23 – onde ele relata espantado ao ver as encostas do deserto americano, chegando a cogitar a possibilidade de ter premeditado/profetizado aquilo, valendo-se dos acasos objetivos cunhado por Breton. Vale lembrar que ele não foi para a América por escolha própria, e sim refugiado da guerra, a questão de vida ou morte eram limítrofes. E ele construiu uma casa naquele presságio-encosta)


Certo disso ou não, habitar se isso faz sentido, pouco importa, pois sempre morei rente à encostas habitadas e pouco consegui sair disso.






Em todo caso, estas são imagens que devem ser honradas.
Um bruxo cansado vendo as praias mais belas e distantes passarem
 cozinhando em água rala e dizendo para si que esse sal todo é a bola de cristal do mundo
lua e maré sinônimam  e somente o ser para si mesmo pode fazer-se nisso
seus temperos rasgam: folhas, ervas e cascas a fio
assim como seus versos

 as mariposas voam baixo e esse é o fogo que cozinha 

Eudemonologia para o agora

...na vida, na casa e no trabalho...
Schopenhauer


Não imponho meus sentimentos e desejos aos outros.
É visto que não posso dizer ao outro (e se posso, posso quase nada) “fique feliz, não fique triste”, sendo que isso seria dito por ele mesmo, e só por ele, para ele mesmo. No máximo acolho o sentimento do outro com um abraço e um silêncio profundo, fazendo a voz que lhe tiraria de tal estado sentimental, ecoar do fundo se sua pulsão anímica.

A felicidade ou simplesmente a animação não são coisas fáceis – podem ser simples, mas nunca fáceis -, sendo muito difícil encontrá-la em mim, porém bem mais difícil encontrar em um lugar distante. Talvez as pessoas próximas, aquelas que amo como amigos e familiares sejam os únicos que podem alavancar esta pulsão que anima e me livra de não conseguir cambiar os sentimentos.

É claro que as pessoas em que confio podem gerar esta alternância fazendo ecoar a voz que move, mas sinto que é somente quando ela ecoa das profundezas íntimas, é que posso de fato levantar a ancora e partir para outra.

É interna, porém construída com o entorno (tudo que podemos colocar para dentro e transformar em aliados), aquela fantasia poderosa que é capaz de transformar uma ocorrência cotidiana em algo grande e belo. Mas parece que, somente quando falo por mim (fala de si) é que sou capaz de manifestar-se em ajuda – “aquele que se expressa e se manifesta, traz ajuda a si próprio”.

Sinto que somente depois de um pedido de ajuda, manifesto ou expresso (aqui, a leitura e interpretação do gesto e a leitura do rosto já são totalizantes: invasão e sequestro do outro), é que a ajuda pode ser oferecida. Somente o ser para si mesmo pode fazer-se e refazer-se, a cada instante, a forma que lhe oferece.


domingo, 12 de julho de 2015

para vestir-se: imagem totem

Ser de sensação que conserva em si as horas de um dia e os graus de um momento.
De frente a esta paisagem, que é anterior a todos os homens – a ausência do homem é vista.
Nessa ausência, que é uma antecedência, integro-me na paisagem: o olho arregalado é um scanner antropofágico.
É precisamente nesse devir não humano (anterior ao homem), de frente a essa paisagem não humana da natureza, que se torna possível ver que, se há um minuto do mundo que passa, posso me transformar nele.

Nessa certeza de que não estou no mundo, mas sim me tornando com o mundo, a partir desta contemplação( que não contempla, mas digere e se anima com  o que é digerido) que é uma interiorização, me torno universo, animal, vegetal, molécula e tudo é visão, devir constante e incondicional. Pois daqui, de frente para esta paisagem tão companheira e engolida, nenhum infortúnio me alcança. Nesta imunidade tão benfazeja, sinto os tabus se transformarem em totens aliados.

Manta cobertor paraíba


fenda auricular: tonalizações para uma ritmanálise

https://soundcloud.com/tonalizacoes

Devaneio

Devaneio

É jogado no Google (oráculo citadino): Brasília vermelha 3.000 reais. Ela é comprada e atrás dela é fixado o adesivo da pesquisa em branco fino, duro e transparente. Anda-se de boa na avenida, cruza a ponte da divisa do jaçanã com a Vila Galvão. Volante grande e preto e quente e igualmente os bancos de couro. Dirijo de boné.

- devaneio visual, trampolinado por uma foto;

- veio de outra lembrança(placa de faz-se), percepção que desembocou sucessivamente nas imaginações deste devaneio;

- sucessões de imagens que se encavalaram uma nas outras.




https://soundcloud.com/tonalizacoes/devaneio-anima-de-fundo

https://www.facebook.com/tonalizacoes?ref=hl

Para quando a paz faltava,


com raiva após ser agredido, promessas foram feitas. Se deve honrar essas lembranças – em algum lugar ela habita no in da intimidade, feita a sós, pronunciada pela boca de sempre. Para o menino que gaguejava, para o menino emburrado depois de uns tapas, ela é um signo que, enquanto é inscrito – doce asfalto sob um vento seco e pardo – se torna um amuleto-insígnia que irá pairar como um selo na fronte de toda lembrança. De chofre, o juramento que o menino fez para si e que o adulto esquecido negou, tem de ser interiorizado e remontado afim de um cumprimento: salto do corpo-engrenagem para as ondulações plenas de vida e poética, reza-mantra no antes que devaneia. O menino-monstro é em si a possibilidade de paralisar este martelo, colando etiquetas nas portas de aço com as palavras manutenção e reparo – lê-se advento. Se a um resquício tetânico, não é só pelos atingidos, mas também pelo menino que se fez promessa e vem sendo desonrado. Caminhamos em paz nos devaneios libertos. Todas as promessas serão tocadas e todos os acordos de um núcleo permanente serão reavivados. 


Nisso sigo grato e me despeço. Até nunca mais, B. Pastore.


receituário: mantra acerca de V W

Saturo cada átomo!!!
eliminei tudo que é resto e superfluidade.
incluo nos momentos o absurdo, os fatos tonalizados, o sórdido, mas tratados em transparência.
C O L O C O tudo S A T U R A D O!
atingi a fonte sagrada, vejo vida no vivente e o vivente no vivido: vivo na via da vida!
Fôlego que me faz vi(ver) através do vivido saudável: vivão!
sou índio: não há arte, somente curativos medicinais.
Parido de uma casa vermelha
as rachaduras do quintal até o portão fazem encostar a nuca nas costas
e o mundo se abre, ele é um apetite no interior da mandíbula
O ipê roxo estava lá entapetando a calçada desde dentro e em cada pedra
- encaixadas uma a uma - o cachorro passa batido arremessado na paisagem que por ele passa: a sua indiferença nos ama como se nada mais se atrevesse a atravessar
Mas não,
uma árvore nodal com uma casa de cartas no meio, os entulhos e as trepadeiras e os grafites grudados feito liquens no muro mugrento
bastam para tudo voltar a ser rente e o coração anunciar a criança que fomos
- anunciação abismal e o olho arregalado de um menino frente a zona mercúrio do entre –
o organismo de um chamado é partilhado aos entes
na frieza de um ponto que espera sem deixar de conter o córrego da palavra córrego no que é verdadeiramente córrego
no asfalto que jamais se queixa – curva no aberto -
tomado pelos esquemas que liberam o corpo da suspeita de si
- nisso uma árvore é tombada no mais aberto ainda –
o céu é prateado de uma voz que funda a medida desse ventre que nos acompanha
é impossível dormir com esse centro na cabeça
é impossível dobrar esta antena
talvez seja ela a lentidão dessa curva que anuncia o fim do trecho
um perímetro excedido à beira rio
a infinição desses nascimentos cobrem o olho – mechas-imagens da infância –
como se ventasse uma bandeira, mas instalado na eira ligante que se agita em sua cor
As atrações ventrais beiram as tonalizações que se cruzam na presença arregalada e colada naquilo que é transitado e transita: tudo diz frequenta-me
e se o horizonte é marginal, não se sabe quem mudou a direção dos ventos
e ao contrário, os graus entre as nuvens ainda tomam aquela mesma sopa
e devem ser honrados até essa voz rouca socar as costas novamente
Rostoutrem: basta o calor humano de um pico e o contra fluxo das rachaduras das faces se abrindo entradas nelas mesmas e todos os assuntos penderem-se atravessados
e deve ser isso andar na linha

terça-feira, 23 de junho de 2015

Ventrais






corpo-templo-vento: o entre do vento = ventre

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