domingo, 30 de dezembro de 2012

 menino brincando com ossos na praia
primeira aparição antes da despedida
canto de flauta
na mão do palhaço
aceito ouvir aquilo que range dentro de seu grito

sono 
 e motor no peito
aprendo a falar a língua dos homens

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

mais do Guia de sobrevivência


água: matriz universal; primordial para a fusão aérea; mais água que a água do mar e a da pia; ocupação de poeta que comunica e a faz ferver junto á chama do seu templo.

Frevo: filosofia que toma a imaginação como conhecimento e reconhece o vapor da fusão aérea entre fogo e água; quando animus e anima copulam e a cabeça ferve; consubstancialidade.

Energia: delícia eterna; limpar de erros os livros e escrever inocência onde se lia pecado, liberdade onde estava escrito autoridade; instante onde se grava a eternidade; potência; asa do homem, onde ele se faz livre – desejo e imaginação; quando o céu esta ao alcance de nossas mãos e se chama fruta, flor, nuvem, mulher, ato; quando a eternidade se enamora das obras do tempo, a poesia é reino e o poeta volta a ser vate; quando o vaticínio proclama a fundação de uma cidade cuja primeira pedra é a palavra; quando a poesia entra em ação liberta da palavra artista e da utopia objetiva dos filósofos, agindo sem pretensão, agindo sem agir; práxis – caminho do meio; poética. 

Poema:desígnio, registro diário; fragmento; perde quando só diz da realidade;  pensamento reto e audaz; substância impressionante; pedaço de pedra estelar que estão gravados a analogia universal, superando esta condição - sendo; correspondências que enlaçam o homem com o cosmo; busca de uma idade perdida; a ressurreição do poeta como andante, namorado  e vidente; astro de muitas facetas; regresso a algo novo, de sempre – vácuo entre a nostalgia e o pressentimento; escritos de uma religião da noite; hinos que fazem nascer o dia – superação da morte;paraíso artificial(hoje, deve ser mais forte que o crack); antídoto e poção; fagulha do paraíso - para realizá-lo aqui agora; transfiguração; monstro; asa; mostra do inominável que nos rodeia; respiração; epifania;energia; potência que nos livra de nossa mente.          

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

todas as deidades residem em nós
 não me importo com virtudes morais
 ajo por impulso e não por regras
 sou destinto do pecado original

minha tia energisava pedras e cristais
agora energiso palavras
para que volte aos meus filhos e a minha casa
todas as noites sem falta
e que honre meus ancestrais

se não faço o que quero
faço o que devo

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Do guia de sobrevivência


Pintura: sempre um desafio que te tire de seu lugar; massa; espessuras que exponham em si o excesso - mostrar a gravidade e a densidão da vida a cada pincelada gorda numa expressão consciente disso;fazer cercado de crianças aumenta a dificuldade – estar na dificuldade e permanecer na serenidade de um monge; lugar de conversa com entidades antigas, acesso ao DNA( líquidos humanos), manutenção da fenda ancestral – pincel zero=pincel rezo; Terapia relacional, livro-espelho da cara; ferramenta para melhorar como ser; comunicação estrangeira; se mostra como a natureza; sempre grande ou minúscula; matéria em si que em si fala - quando a imagem é nova o mundo é novo; política; é poema e deve funcionar como tal e, como o poema, o fim de uma pintura é o início de outra;pintura social – pensar, ver e resolver a vida como se resolve a pintura, no mesmo âmbito e gozo; tudo é pintura; não lavar os pincéis, pois a pintura nunca acaba.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


Metafísica da mandibula:

o mundo é meu apetite

P O E T A :

a cada apetite um mundo

renovo as belas imagens

 Saúde cósmica:

digo todas as oblações que o mundo e o planeta nos oferece

Comer:
raiz de todas as palavras das línguas humanas

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


Palavra: a única curva que pode fazer é a de quando bate no côncavo e reverbera, lá no fundo e volta(suspeita-se de que isso seja uma curva). Seta reta de fogo, manifesta: falei do copo d’agua, ele vibra. Manifestação, faca da mente: se faz na boca. A boca é a casa da língua, por isso dois olhos e duas orelhas.

Borramento: palavra de pesquisa, encontro capilar, amalgama – quando a trama se faz visível – e a comunidade se faz aqui agora numa fagulha de paraíso terrestre. Postura, costura urbana; o aberto em sua forma.

Licença poética: licença normal para trabalhar, coisa de camelô, ladrão. Trabalho imprescindível na cidade. Liberdade de escambo, trabalhar livre, sem culpas morais. Aqui, a cada furto, golpe e lançamento, agradecer verbalmente as entidades envolvidas na manobra. PS: sem culpa, romper com a maré das citações.

Desenho: Mostrar o invisível, facilitação gráfica, expor uma alternativa até ser; incorporação, ascese; mostrar o que te afeta. Expressão do que fica entre a nostalgia e o pressentimento; traço, linha, registro, gratidão ao que se mostra; expressão do idioma íntimo do destino de quem desenha  - desígnio.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pariptético:

 Amigo, já ouviu falar em organização pessoal, espiritual, financeira e pessoal, essas coisas?
-Eu não posso ter organização, sou um artista!

- É que quando você fala esta palavra, sua boca e seu peito mostram a inflação de seu ego.

-Eu tenho orgulho.

-A palavra eu hoje é questionada, amigo, como uma palavra que apresenta algo muito impreciso, perecível e, hoje em dia desconfiamos com todas as forças de atitudes que partam somente dela. Ela diz de um modo restrito e imparcial, representando o oposto ao tão almejado caminho do meio. Ela desvirtua amigo.
Percebo quando capengas em tuas atividades e tropeça constantemente em seu ego, que é tal como um rabo que fica quando passa entre as portas que se abrem.
Os artistas - principalmente os que se avizinham dos poetas – carregam, assim como eles e os profetas, xamãs, pajés e os oráculos místicos, a missão de segurar, como pilares, a queda do mundo superior sob o inferior, o que causaria a destruição do nosso mundo intermediário.
Por isso amigo, ser sustentáculo e antena, exige certa organização, pois se trata de um trabalho capilar, entrelaçado e, ver e dizer deste crivo exige, além de disciplina, permanência e constância, também a demissão do eu que se dissolve em meio a esta trama que se mostra. Amigo, se dar a estes atos de doação disciplinar, doutrina e organização pessoal, em prol, num ato semelhante ao de um Vaishnava, e transmitir para os outros o diálogo entre os mundos, exige muito respeito, coragem, disposição e aceitação. Este trabalho para os outros, não aceita tropeços, uma queda pode causar a dispersão.

Sei que não quer isso amigo, por isso te digo, pois sei que quando diz “eu não preciso me organizar, por que eu sou artista”, é um eu pequeno e inflacionário que fala, um eu “descolado”, que pensa somente em si numa carreira de sucesso. No seu medo de ser medíocre, adquire complexos (de Picasso: promiscuo, artista de ateliê, acorda meio dia, transa pinta três quadros e volta a dormir; e de van Gogh: artista doidão, rejeitado e mal compreendido por todos, postura inviável nos dias de hoje, pois as raves e a cracolândia está cheia deles, arranca a orelha para não ouvir nada e nem ninguém) espelhando-se em artistas bem sucedidos, para a emancipação do seu eu.

Este trabalho de se debater, catar cavaco e cavar a duras penas um “espaço”, te faz esquecer que seu trabalho é intermediário – mostrar o desconhecido para os outros – e que este para os outros pode acontecer em todos os momentos de sua vida, até nos médios. Às vezes, seu medo de ser medíocre – que aparece na sua ânsia de ser Rimbaud: o além da média – lhe priva de potencializar todos os momentos da vida, vivendo-os de forma ausente à espera que a arte aconteça.  Seu trabalho é para os outros e realizá-lo, talvez fosse trazer este momento “onde a arte acontece“ para todos os momentos de sua vida, tornando-os potentes, com as pessoas a sua volta, ampliando o âmbito das experiências graves e produtivas. Deves juntar sua fala ao corpo.
Depois da fala, um silêncio tomado, as palavras são engolidas a seco na fresta da frase que permanece na ação sem agir, diz sem nada dizer. Na casa ao lado o vizinho trabalha a infância, recebe entidades e germes de criança.
movo, imóvel de essência
fio de cabelo na folha

 somente todo

ignorância da realidade
  uma luz encheu minha caixa d'agua