quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Um cheiro de chá tomou a casa

-"de repente, onde vivíamos, tudo começou a se aquecer e o fantasma da fome começou a nos ameaçar, e só nos restava seguir no encalço dos rebanhos ou encontrar uma alternativa que nos permitisse seguir vivendo na sagrada terra dos antepassados. As práticas mágicas se mostraram impotentes e, nesse ínterim, nada trazia os rebanhos de volta e a agricultura despontou como a única alternativa possível para a nossa salvação" -:

o pastor observava, ao amanhecer, que o sol surgia em pontos diferentes do firmamento, mas sempre do mesmo lado e, de maneira similar, observava que ele se punha também em pontos diferentes, mas sempre do lado oposto do horizonte.
Ao deixar seu abrigo, sua fenda, durante a madrugada, ele se dava conta de que as estrelas surgidas no oeste, rolavam até desaparecer no horizonte. Assim ele percebeu que estas estrelas não eram as mesmas ao longo do ano e, desse modo, o primitivo pastor acabou se familiarizando com algumas estrelas e constelações, ou por seu brilho mais intenso, ou porque o ciclo delas coincidia com algum ciclo importante da natureza.
Assim, ele acabou entendendo que, à medida que a noite avançava, as estrelas mudavam de posição da mesma forma que o sol durante o dia. De prontidão, ele se pois a registrar aquilo que via através de desenhos, pinturas e gravuras. Mais tarde, erigiu rudes monumentos de pedra. Os primeiros, foram levantados, com a finalidade de assinalar a passagem do dia pela direção da sombra projetada pelo sol. Assim ele notou que a sombra do meio dia se orientava sempre para o mesmo ponto do horizonte. Nessa época ele já, além de ter caçado, tinha descoberto umas poucas ervas, raízes, frutos e sementes que funcionavam como complemento alimentar. Os animais domesticados, eram acostumados a receber as sobras, junto às fogueiras noturnas. E foi assim que, em face da necessidade, a exceção acabou por se transformar em regra: da caçada à coleta, essa mudança levou-o, consequentemente, a conquistas diversas daquelas praticadas pelas antigas crenças na magia simpática. No decorrer disso, o pastor constatou que as sementes deitadas ao solo, após as chuvas, possibilitavam melhor aproveitamento, enquanto na maior parte do ano a perda era quase sempre grande. Na verdade, estava sendo verificado que, sob o signo da fome,  o pastor e o agricultor tinham vidas diferentes. Agora, já não bastava comungar a semente e exercitar a magia. O agricultor ( pastor de sementes), precisava entender o comportamento da natureza e prever, sem o que não alcançaria sucesso e morreria de fome. A transformação do coletor em agricultor criou nele a necessidade de registrar a passagem do tempo. Este é o momento que constitui a perda do paraíso ancestral, onde cada indivíduo viu-se condenado a produzir o seu alimento diário e dos seus no entorno, com o suor do próprio rosto.










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