Sei que você é fruto de uma infância dura e roubada, compreendo.
Não consigo te ver no concreto de uma realidade, pois é numa intuição breve e
divinatória que consigo ver como me tratava. Saiba que não lhe relatarei nada,
pois não nos serve, assim como nada de natureza ideal – livrei minha cabeça
para estar reconciliado com a experiência que me reconciliará com tigo. Na
verdade, venho por meio desta, me despedir de ti, empilhando as boas imagens
que tenho de minha avó – rego aqui as flores da minha infância. São nas imagens
benfazejas que teço as transfigurações da realidade a fim de recolher a
dignidade em tudo que for produtivo e magnificante, para nisso tecer a minha
real transformação.E é de chofre que me vejo andando na rua campista disputando
com minha avó, quem mais amava quem. Esticava meus braços ao máximo e dizia a
ela que a amava do maior tamanho do mundo. E ela devolvia dizendo que me amava
mais ainda, maior ainda.
Lhe envio esta imagem que se imprime em nós para dizer que o
que trago de ti são somente intuições que tentam responder ao meu comportamento
psicológico no agora. Saiba que não lhe escrevo pra isso. Quero lhe dizer em
verdade que a depressão de minha avó em cada dia nublado, assim como aquele dia
em que ela me reprimiu por eu ter pintado o cabelo do navegador de amarelo, não
passam de sintomas de uma infância empalada. Lhe digo também que foi você que
não deixou ela ver que o cabelo do navegador era loiro. Agora bem te
compreendo, e te perdoo me desfazendo de qualquer amarra. Sinto a integração
que isso introduziu nas substâncias de meu corpo e é nisso que me despeço na
certeza que nunca mais nos veremos. Agora posso sorrir e brincar junto as
crianças.
Adeus, felicidades, B.
Pastore.
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