quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Para a imaturidade lúdica de minha avó



Sei que você é fruto de uma infância dura e roubada, compreendo. Não consigo te ver no concreto de uma realidade, pois é numa intuição breve e divinatória que consigo ver como me tratava. Saiba que não lhe relatarei nada, pois não nos serve, assim como nada de natureza ideal – livrei minha cabeça para estar reconciliado com a experiência que me reconciliará com tigo. Na verdade, venho por meio desta, me despedir de ti, empilhando as boas imagens que tenho de minha avó – rego aqui as flores da minha infância. São nas imagens benfazejas que teço as transfigurações da realidade a fim de recolher a dignidade em tudo que for produtivo e magnificante, para nisso tecer a minha real transformação.E é de chofre que me vejo andando na rua campista disputando com minha avó, quem mais amava quem. Esticava meus braços ao máximo e dizia a ela que a amava do maior tamanho do mundo. E ela devolvia dizendo que me amava mais ainda, maior ainda.
Lhe envio esta imagem que se imprime em nós para dizer que o que trago de ti são somente intuições que tentam responder ao meu comportamento psicológico no agora. Saiba que não lhe escrevo pra isso. Quero lhe dizer em verdade que a depressão de minha avó em cada dia nublado, assim como aquele dia em que ela me reprimiu por eu ter pintado o cabelo do navegador de amarelo, não passam de sintomas de uma infância empalada. Lhe digo também que foi você que não deixou ela ver que o cabelo do navegador era loiro. Agora bem te compreendo, e te perdoo me desfazendo de qualquer amarra. Sinto a integração que isso introduziu nas substâncias de meu corpo e é nisso que me despeço na certeza que nunca mais nos veremos. Agora posso sorrir e brincar junto as crianças.

Adeus, felicidades, B. Pastore.

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