Uma caixa branca, mistério nas alturas do armário.
Sabia o que era e, na medida que crescia chegava mais perto
de meu presente. Um tio havia me dado, minha avó tinha guardado por tempos, por
puro medo de que eu me machucasse. Não prezar pela liberdade do menino fez de
mim um desbravador daquela caixa branca, monólito na última prateleira do quarto
da bagunça – assim me fiz aquele que quer acessar. Enfim, conquistei meu skate
que me foi velado – desvelar me tornou nato, me vem à voz e fala.
Nunca quis manobrar, mas tive que aprender e, na medida em
que fui crescendo, conquistei-o para brincar no quintal – saiba que juntos
desfrutamos, num rodízio, os deleites da ardósia quente.
A rua me atraiu – a ladeira chama os meninos e os rolimãs
chamam as ladeiras, são sinônimos desse chamamento-imã.Três ou quatro num
carrinho. Fizeram a curva aos berros – a felicidade toma as ruas onde o sol
reina. Precisava de meu skate e, com muito embate, consegui te colocar para
navegar no asfalto liso da rua Bahia – eras um tubarão.
Lixa e roda grossa, me admirava te olhando esticando os
instantes de toda tarde. Descíamos a rua, eu sentado em você, as vezes dois ou
três em cima e a felicidade em nosso encalço.
Desço a rua na velocidade alegre que a ladeira nos dava, já
devia ter voltado pra casa – sempre é a última vez. Vejo minha avó correndo em
minha direção, me chama gritando e eu perco o controle, raspo o joelho no asfalto, você desce e espirra de
lado, minha avó se desespera, como sempre ela fez quando perdia o controle da
situação – toco a neurose ancestral, me livro disso -, você vai parar debaixo
do caminhão de gás, grito para o homem esperar, mas ele não entende, minha avó
grita por cima e ele se perde. Ele acelera e te parte ao meio. E até hoje culpo
todos os desesperados - o sol não foi tão brilhante nos dias que seguiram
aquele verão.
Perdoo e aprendo com isso.
Sabemos que fomos íntimos e, a partir de agora, o que nos
liga será mais fundante do que aquilo que nos separa. Vieram outras madeiras.
Lhe agradeço, muito obrigado, do seu, B.P.
Nenhum comentário:
Postar um comentário