sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Ao meu primeiro skate

Uma caixa branca, mistério nas alturas do armário.
Sabia o que era e, na medida que crescia chegava mais perto de meu presente. Um tio havia me dado, minha avó tinha guardado por tempos, por puro medo de que eu me machucasse. Não prezar pela liberdade do menino fez de mim um desbravador daquela caixa branca, monólito na última prateleira do quarto da bagunça – assim me fiz aquele que quer acessar. Enfim, conquistei meu skate que me foi velado – desvelar me tornou nato, me vem à voz e fala.
Nunca quis manobrar, mas tive que aprender e, na medida em que fui crescendo, conquistei-o para brincar no quintal – saiba que juntos desfrutamos, num rodízio, os deleites da ardósia quente.
A rua me atraiu – a ladeira chama os meninos e os rolimãs chamam as ladeiras, são sinônimos desse chamamento-imã.Três ou quatro num carrinho. Fizeram a curva aos berros – a felicidade toma as ruas onde o sol reina. Precisava de meu skate e, com muito embate, consegui te colocar para navegar no asfalto liso da rua Bahia – eras um tubarão.
Lixa e roda grossa, me admirava te olhando esticando os instantes de toda tarde. Descíamos a rua, eu sentado em você, as vezes dois ou três em cima e a felicidade em nosso encalço.
Desço a rua na velocidade alegre que a ladeira nos dava, já devia ter voltado pra casa – sempre é a última vez. Vejo minha avó correndo em minha direção, me chama gritando e eu perco o controle, raspo o joelho no asfalto, você desce e espirra de lado, minha avó se desespera, como sempre ela fez quando perdia o controle da situação – toco a neurose ancestral, me livro disso -, você vai parar debaixo do caminhão de gás, grito para o homem esperar, mas ele não entende, minha avó grita por cima e ele se perde. Ele acelera e te parte ao meio. E até hoje culpo todos os desesperados - o sol não foi tão brilhante nos dias que seguiram aquele verão.
Perdoo e aprendo com isso.
Sabemos que fomos íntimos e, a partir de agora, o que nos liga será mais fundante do que aquilo que nos separa. Vieram outras madeiras.

Lhe agradeço, muito obrigado, do seu, B.P.

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