quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

À boiada passando na rua,


Sinos, mugidos anunciando a sua chegada aos gritos(eh boi, eh boi). Corro pela janela da sala, vai do teto ao chão. Dali vejo passar a sua materialidade – na mistura de medo e curiosidadde sentia chegar o fim da tarde. Bois e cabras no triângulo da campista com a Bahia, onde brincávamos depois do assombro de sua aparição – cheiro e marca de estrume no asfalto, os rabos balançando e uns bichos retardatários virando a esquina depois, rumando para o calipal.  Sinto um orgulho enquanto lhe escrevo, não só pelo prazer de ter te visto pelas ruas do bairro, em plenos anos noventa, mas também por esbarrarmos afinidades íntimas e sobrenominais: toco o rosto negro – carranca escura e enchapelada do Zé do boi pastoreando, gritando e guardando o rebanho pela frente na firmeza de que os bichos iriam lhe seguir incondicionalmente. Aqui me asseguro existencialmente - casa germinada –, me avizinho a um parente: alegra avista da gente reconhecer um xará.
Aproveito para lhe dizer que, num dia em que a paz me faltou e me vi lançado e sozinho na terra, visitei sob a voz de um outro vizinho que conseguiu dar uma iconografia ao nosso significado  nessas trilhas que vão e vem e riscam as fronteiras em busca de um abraço apertado, mesmo sem ter um sapato pra calçar. Talvez, nesses versos que vou partilhar(mais por uma questão provisionaria e alimentícia, jamais por uma aculturação), toquemos o indizível e inaudito de nosso ligamento nessa dupla paixão. Escreverei como se escreveu em mim, de memória afetiva, pois foi como recolhi e como trago, mais ou menos assim:
“ Nunca guardei rebanhos
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor
 Que conhece o vento e o sol
E anda pela mão das estações a seguir e a olhar.
Toda paz da natureza sem gente,
Vem sentar-se ao meu lado
Como uma borboleta na janela
É o sossego que deve estar na alma.
As mãos colhem as flores e as flores colhem as mãos
Sem se dar por isso.
Os meus pensamentos são contentes
Para além das curvas da estrada
Como um ruído de chocalhos.
Pensar incomoda como andar na chuva.”

Agora entendo o pastor na frente e todos os bichos soltos seguindo atrás.
Enfim, espero que estes versos te encontre numa legal e
 assim me despeço, grato, desejando que deus nos livre de nossa mente. Muito obrigado!
Felicidades, B.P.
 



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