sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Subjétil

Na cogestação do objeto perseguido: entre o jazer e o lançar.

Foi depois de sua pintura se desprender da parede que resolvi aceitar que este dia eu estive esburacado. Uma rolha tombada e manchada do vinho que bebemos três dias atrás quando saudamos as fitas cassete catalogadas por minha avó, uma a uma. Estendemos a colcha necromãntica e ficamos lendo o que devemos fazer para dar uma boa sugestão de mundo.Mas só hoje estive rente como se entrasse em digestão. Talvez por isso comi e comi tentando tapar este buraco e no desejo de não ver que ele era sentido no estômago, mas de uma ordem ontológica, gastei uns trocados na máquina de ursos de pelúcia: sempre uma garra frouxa que desce mas nunca fixa nada, pega  mas sempre escapa. Hoje foi de cerrar os olhos e isso me tirou das distrações possíveis, pois tropecei duas vezes no mesmo lugar. Ter uma pergunta onde a resposta teima em não obter matéria e lastro é muito grande. A lembrança de seu presente é uma franja sobre o futuro e me suspende a cada tentativa de suprimi-la em resposta dada. Esta é a inquietude e esta é a dor que faz beber sem sede.
Troquei ser reconhecido por realizar um bem ao maior número de pessoas e senti que a gancheta andou uma casa.  O último a quem fiz a mesma-pergunta-única de sempre , me disse que bastaria me dizer, para responde-la, que o poder informador dos materiais transmitidos pelos órgãos dos sentidos, o poder que converte em objetos precisos e determinados as vagas impressões provenientes do olho, do ouvido, de toda a superfície e de todo interior do corpo é a lembrança.

Está na lembrança, venho sondando as suas possibilidades sem cessar. Talvez por isso, toda vez que penso em colocar a nossa aproximação e o nosso frequentar-se em risco, o meu corpo vibra, tremendo como se quisesse se desfazer perante a colagem do espaço-tempo. A lamela do tempo passa cantando sua canção fria, mas por enquanto insistirei nesse ponto. E toda vez que pensar em mudar de casa, mudarei tranquilo, pois o barro sempre será o mesmo. O habitante da origem jamais abandona o lugar.

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