Desenhar é partilhar do processo
do surgimento. Desenhar torna-nos aptos a uma maior facilidade em sentir o
corpo, seus mecanismos-jeitos, ações e sensações físico-etéreas. Através do
desenho é possível participar da criação de mecanismos, organismos,
organogramas e organizações(via designer thinking, desenho de observação e
desenho industrial). Este estar na base, antes do surgimento das coisas,
participando do processo de surgimento das coisas, faz quem desenha estar
alocado nas ondulações de onde as coisas e os seres brotam. Nesta manobra de
ativar o vazio a fim de objetivá-lo( trabalho de tornar o nada – nadificativo -
em objeto/coisa - objetiva), aquele que desenha frequenta ritmos ondulantes. Uma substância só pode
agir quando a sua matéria se torna nada, ou seja, quando ela volta a ondular. Aquele
que desenha parece recolher-se para o estado de nadificação, onde a sua frequência
volta à ante-matéria , ao anterior à matéria. Vibrando naquilo de que somos
hóspedes e hospedeiros, ele modula efeitos, sensações e afetos que nos implicam
a conceber a realidade( nada manifestado). Observador agente destas engrenagens,
assistente desta organização interna, instalado antes de tais mecanismos em um
ato anterior aos seus surgimentos - onde vibram as ondas sintonizáveis de uma
água tecelã – o desenhista identifica com facilidade os estágios do surgimento sensível-sentimental.
Por isso talvez os artistas
estejam bem posicionados perante as questões terapêuticas. É a sutileza
minuciosa de seu trabalho – de tornar visível o invisível - que lhe deixa a
par de realizar observações que nos levam a ações aptas a uma saúde cósmica. Frequentador
do processo de surgimento, observador de dentro da episteme, aquele que cria(trabalho de mãos,
pernas e boca) está apto a lidar com as sensações e sentimentos mais profundos. Talvez também por isso as suas sugestões
diagramam o mundo, sugerem desenhos interiores e arquitetam encontros com o Si,
assim como com o todo e com um caminho. Talvez essa seja, e se é que existe
alguma, a sua única finalidade: servir de meio para um por vir-acontecimento/situação
ou coisa na realidade. Ou seja, estar a serviço da alternância - alteridade
entre o mesmo situado, vigente e o outro vindouro, invisível e ainda porvir.
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