domingo, 8 de novembro de 2015

Interiorização da ideia/noção de máquina: identificar o que é sentido


Desenhar é partilhar do processo do surgimento. Desenhar torna-nos aptos a uma maior facilidade em sentir o corpo, seus mecanismos-jeitos, ações e sensações físico-etéreas. Através do desenho é possível participar da criação de mecanismos, organismos, organogramas e organizações(via designer thinking, desenho de observação e desenho industrial). Este estar na base, antes do surgimento das coisas, participando do processo de surgimento das coisas, faz quem desenha estar alocado nas ondulações de onde as coisas e os seres brotam. Nesta manobra de ativar o vazio a fim de objetivá-lo( trabalho de tornar o nada – nadificativo - em objeto/coisa - objetiva), aquele que desenha frequenta  ritmos ondulantes. Uma substância só pode agir quando a sua matéria se torna nada, ou seja, quando ela volta a ondular. Aquele que desenha parece recolher-se para o estado de nadificação, onde a sua frequência volta à ante-matéria , ao anterior à matéria. Vibrando naquilo de que somos hóspedes e hospedeiros, ele modula efeitos, sensações e afetos que nos implicam a conceber a realidade( nada manifestado). Observador agente destas engrenagens, assistente desta organização interna, instalado antes de tais mecanismos em um ato anterior aos seus surgimentos - onde vibram as ondas sintonizáveis de uma água tecelã – o desenhista identifica com facilidade os estágios do surgimento  sensível-sentimental.


Por isso talvez os artistas estejam bem posicionados perante as questões terapêuticas. É a sutileza minuciosa de seu trabalho – de tornar visível o invisível - que  lhe deixa a par de realizar observações que nos levam a ações aptas a uma saúde cósmica. Frequentador do processo de surgimento, observador de dentro da episteme, aquele que cria(trabalho de mãos, pernas e boca) está apto a lidar com as sensações e sentimentos mais profundos.  Talvez também por isso as suas sugestões diagramam o mundo, sugerem desenhos interiores e arquitetam encontros com o Si, assim como com o todo e com um caminho. Talvez essa seja, e se é que existe alguma, a sua única finalidade: servir de meio para um por vir-acontecimento/situação ou coisa na realidade. Ou seja, estar a serviço da alternância - alteridade entre o mesmo situado, vigente e o outro vindouro, invisível e ainda porvir.

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