Na falta de chão eu fui tomado. Tudo foi diminuindo numa
compressão e quanto mais eu lutava por ar, mais ele se esvaia. Vejo a represa
vasta, sua água cor de ferrugem e os adultos, corajosos, indo às braçadas para
o seu meio longe da margem. A corda onde os fortes desciam a queda d´água me é
uma imagem inesquecível. O que eu imaginava ali?
Diziam que debaixo da água existiam seres submersos:
tratores, carros roubados, placas de aço e vigas de ferro. Talvez eu tenha
visitado os metais de sua água. O choque me abriu e me fez ver tudo ao redor tomado
pela água, era assim por todos os lados e de repente um puxão pelo braço: minha
mãe me resgata antes que o céu ficasse da cor do fundo da represa.
Terceira vez que isso acontecia em menos de dez anos –
sempre uma mão que te puxa para a luz de um nascimento. Na piscina do Nosso Clube
não foi diferente: a sensação do ar sendo recuperada é a mais renovadora –
entendo os que praticam ficar embaixo da água. Quem passa por isso ganha a
noção de abismo e só depois disso se torna possível dizer de um ante-mundo:
poema do entre. Depois disso, as coisas são visitadas a partir de uma maior
gravidade, tudo é mais fixo, rente e real.
Escrevo-lhe também me livrando de qualquer sentimento que
possa fazer eu culpar minha mãe, e devo, na verdade, agradecer suas distrações
que me proporcionaram esses nascimentos que comprovam que morrer só morremos
uma vez – se é que morremos – mas nascer é infinito. Muito obrigado por essa
infinição do nascimento : sempre uma mão que te puxa.
Do sempre seu, Bruno P.
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