quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Ao dia em que me afoguei na represa


Na falta de chão eu fui tomado. Tudo foi diminuindo numa compressão e quanto mais eu lutava por ar, mais ele se esvaia. Vejo a represa vasta, sua água cor de ferrugem e os adultos, corajosos, indo às braçadas para o seu meio longe da margem. A corda onde os fortes desciam a queda d´água me é uma imagem inesquecível. O que eu imaginava ali?
Diziam que debaixo da água existiam seres submersos: tratores, carros roubados, placas de aço e vigas de ferro. Talvez eu tenha visitado os metais de sua água. O choque me abriu e me fez ver tudo ao redor tomado pela água, era assim por todos os lados e de repente um puxão pelo braço: minha mãe me resgata antes que o céu ficasse da cor do fundo da represa.
Terceira vez que isso acontecia em menos de dez anos – sempre uma mão que te puxa para a luz de um nascimento. Na piscina do Nosso Clube não foi diferente: a sensação do ar sendo recuperada é a mais renovadora – entendo os que praticam ficar embaixo da água. Quem passa por isso ganha a noção de abismo e só depois disso se torna possível dizer de um ante-mundo: poema do entre. Depois disso, as coisas são visitadas a partir de uma maior gravidade, tudo é mais fixo, rente e real.

Escrevo-lhe também me livrando de qualquer sentimento que possa fazer eu culpar minha mãe, e devo, na verdade, agradecer suas distrações que me proporcionaram esses nascimentos que comprovam que morrer só morremos uma vez – se é que morremos – mas nascer é infinito. Muito obrigado por essa infinição do nascimento : sempre uma mão que te puxa. 

                               Do sempre seu, Bruno P.


Nenhum comentário:

Postar um comentário