Minha cara,
me lembro dos sábados que ia com o meu avô, para a sua fábrica de molduras no parque
São Jorge, próximo ao Largo do Maranhão. Lá no canto da sala enorme te vejo.
Ficávamos só você e eu, num prazer indescritível me sentia um rei.
Digo que
foram nesses encontros tão solitários e tão íntimos que aprendi a importância
de comunicar os prazeres. Tu, e só tu sabe das poucas vezes que pude partilhar
de nossos encontros com os outros. Era somente quando eu conseguia convencer
meu avô Dionísio a largar seus afazeres para vir se divertir conosco, ou quando
meu primo pode, nas poucas vezes em que pode –, estar conosco. Me lembro
vagamente de um dia surgir uma criança do nada, e de eu ter me amigado a ela e
juntos, desfrutamos a imensidão de sua companhia. Do mesmo jeito que ela veio,
ela se foi.Tenho que te confessar que, até hoje, desconfio se essa aparição foi
real ou se foi fruto de minha imaginação – alucinação-obra do desejo de
partilhar um prazer.
Bom, isso
pouco importa, pois cada uma dessas coisas tem o seu vocabulário, e tudo pode
nascer da união entre eles quando se segue os devaneios de um ser que fala. Sabemos
que todos os entes obedecem aos prestígios de seus nomes. Assim acontece às
coisas, como aos astros.
Por fim,
gostaria de lhe agradecer por desvelar a forma e o valor de um paraíso
compartilhado. Prometo levar-lhe – com todas as suas sensações e presenças, ao
maior número de pessoas.
Muito obrigado, Seu, B.P.
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