quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

À montanha de cavaco (postal em duplicata: acidente cultural)


Minha cara, me lembro dos sábados que ia com o meu avô, para a sua fábrica de molduras no parque São Jorge, próximo ao Largo do Maranhão. Lá no canto da sala enorme te vejo. Ficávamos só você e eu, num prazer indescritível me sentia um rei.

Digo que foram nesses encontros tão solitários e tão íntimos que aprendi a importância de comunicar os prazeres. Tu, e só tu sabe das poucas vezes que pude partilhar de nossos encontros com os outros. Era somente quando eu conseguia convencer meu avô Dionísio a largar seus afazeres para vir se divertir conosco, ou quando meu primo pode, nas poucas vezes em que pode –, estar conosco. Me lembro vagamente de um dia surgir uma criança do nada, e de eu ter me amigado a ela e juntos, desfrutamos a imensidão de sua companhia. Do mesmo jeito que ela veio, ela se foi.Tenho que te confessar que, até hoje, desconfio se essa aparição foi real ou se foi fruto de minha imaginação – alucinação-obra do desejo de partilhar um prazer.

Bom, isso pouco importa, pois cada uma dessas coisas tem o seu vocabulário, e tudo pode nascer da união entre eles quando se segue os devaneios de um ser que fala. Sabemos que todos os entes obedecem aos prestígios de seus nomes. Assim acontece às coisas, como aos astros.

Por fim, gostaria de lhe agradecer por desvelar a forma e o valor de um paraíso compartilhado. Prometo levar-lhe – com todas as suas sensações e presenças, ao maior número de pessoas.

                      Muito obrigado, Seu, B.P.

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