domingo, 7 de junho de 2015

Para Cerqueira Cézar, Friebolin e Homero,


Amigos, vocês foram lugares de poucos elogios e é, sem muito pesar que, depois de alguns anos de análise junto ao cigarro de palha, consigo lhes dizer com palavras o que meu corpo já dizia ao pular as suas grades, atraído pela rua.
Agora posso lhes dizer que este fogo(como as professoras apressadamente costumavam dizer) é um fogo íntimo e hermafrodita, objeto-outridade habitante de um menino isolado que o hospedava. Porém, se trata de um fogo natural e potente e é ele que faz os corpos se abrirem. Talvez valha lhes lembrar que a arte, assim como a comunicação de um pensamento/prazer, abre um corpo por esse fogo, mas como um bem maior que o Fogo do fogo.  É somente através dessa abertura dos corpos aquecidos por esse Fogo – possessão dos corpos por dentro, jamais pela frieza do fora – que um real encontro pode acontecer e através dele, algo pode ser partilhado/comunicado e apreendido, como num ato sexual ou sensual.  Agora, e só agora, consigo ver que, na frieza dos mundos emparedados em salas de aula, era isso que não sentiam, não aceitavam e temiam.
Mas consigo reconciliar-me com a era glacial da atmosfera de nossos encontros. Mas também por isso, vale dizer a vocês, algumas últimas coisas que me consolavam, junto à laranjeira da praça. Colado de nuca nela, acolhido, me mantinha longe de vocês, ouvindo palavras que me aqueciam, tecidas para que o Fogo jamais se extinguisse:
Se sabes desfazer fixo
E o soluto fazer voar
E o que voa fixar em pó
Tens com quem te consolar
Lhes canto aqui estas palavras, somente em prol dos meninos-fogo de todos os tempos, para que os últimos nascidos saibam que o peso do mundo pode revezar de lugar.
Adeus e até nunca mais,

B.Pastore 

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