terça-feira, 22 de outubro de 2013

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# Movimento que se dá no poeta:

 “dificilmente o que habita perto da origem abandona o lugar”: em Holderlin

“Todos os caminhos – nenhum caminho/Muitos caminhos – nenhum caminho/Nenhum caminho – a maldição dos poetas”: em Manoel de Barros


Não se dá em linha reta, não vai em direção oposta ao centro(centrifugo), e nem em direção a ele(centrípeto), não gira em volta dele e seguindo em linhas infinitas a partir dele, no perímetro convexo – ou seja, por fora do centro –  em toda superfície, vindo do interior, projeta e emite, retomando-o e recolhendo-o novamente para si, gerando fluxos e influxos de partículas emissoras emitidas de múltiplas maneiras em torno de si mesmo, como fazem comummente todos os corpos naturais.

Movimento notório às substâncias que tem qualidades de extrema sensibilidade:

Fogo que se aquece por todos os lados e o seu meio ao redor se ilumina em todas as direções
O som e a voz que toma seu redor de maneira homogênea.

O que diferencia o poeta dos outros corpos naturais?: N A D A.

Em Epidermias de Ângela Castelo Branco  o encalço desta encruzilhada é seguido, perfurando e amaciando a essência em prol de renová-la:

“Na costura dos silêncios, recebe-se a missão de ser poeta.
Aceita-se ou não.”

Aceitação aqui é a palavra para descrever a substância que se move no criador e o faz emitir a fim de dizer e partilhar aquilo que lhe move e é extremamente sensível.

Edson e a lâmpada.

Leonardo e a asa de morcego costurada no dorso do lagarto.

A necessidade de atravessar sem molhar meus alimentos e a construção da ponte.

Para emitir estas partículas, é produzido um tipo de aparência, simulacros e acidentes sensíveis que se propagam ligados, mesmo quando afastados de suas substâncias centrais e estruturais.

*via para verificar o nível de acesso à “Origem estrutural” e como este acesso pode ser transmitido e compartilhado: Poema aqui é se dar em níveis de acesso à essa “Origem”: 
Abertura ancestral(Racho), Imagem Verdadeira(Buda), Espírito Universal, Célula Mãe(hematopoiesis), Grande Mãe Natureza, dependendo da Aceitação e em que  nível ela acessa e pode ser transmitida e partilhada.

Estas partículas emitidas e emissoras, são emanadas e emanam tal como coisas que ficam guardando seu cheiro por muitos anos, concentrando em si memórias, em despeito de seu pouco volume e leveza:

Caixinha com joia dentro, frasco de vidro vazio, garrafa de refrigerante de vidro, alfarrábio, cheiro de roupa guardada e de mofo, foto velha, selo postal, poney e o matadouro de cabras, cheiro das primeiras vaginas, convite para um sorvete, cadernos de desenho antigo, unha riscando a lousa, aquele filme, gosto de água, mato que pinica a perna, skate tubarão, livro de seres imaginários e por último a maior, a nudez.

Movimento esse que emana qualidades e virtudes sensíveis na atmosfera de maneira esférica e volátil, operando sobre o corpo e os sentidos, mas também sobre as profundezas do espírito atingindo lugares recônditos onde induz afetos e paixões.

Isso é evidenciado em ervas, raízes e minerais e é o mesmo que acontece com os fascínios do olhar e nas operações ativas e passivas do golpe de um mal olhado, grande e gordo e e também em dragões que matam homens com a força do olhar penetrante.(outdoors e mensagens subliminares)

São por esses movimentos que o poeta troca de pele e muda de rosto e de corpo alterando seu estado constantemente, sem poder cessar.

 São essas operações naturais que atuam em todos os corpos de maneira sensível e que nele se dá sem bloqueios, pois ele sabe dessas metamorfoses como ninguém e cuida, trabalha, respira nelas respeitando-as, mas sem se submeter inteiramente a elas, cocriando com elas formas de estar em estado de SERSENDO .

Submetido a essa Metamorfose correspondente ao Corpo Etéreo, ele se faz mutante frente ao corpo social, trocando subitamente de estado sem se fixar ao estabelecido, recriando um lugar que seja sistematizado e imposto por ele, num traquejo similar a um equilibrista que se mantém tensionado na corda bamba, permanece no antes do moldado, no lugar que molda e sabe que a palavra é uma massa mole, o cérebro é uma massa mole, o corpo é uma massa mole e que a matéria e a realidade de qualquer espécie, segue as leis regidas por uma força anterior que esculpe todas as outras que lhe sucedem.

E afirma ao Corpo Etério: somos um só, atuo conforme suas leis, sou regido por aquilo que te rege, atuo naquilo que nos orquestra nessa grandiosidade, respiro essa grandiosidade,escuto muito obrigado!

E afirma ao corpo social: o que imponho a mim mesmo, é levado mais a sério por todos, do que o que me é imposto por constrangimento, estamos juntos, somos um só perante esse aberto que rege.

E afirma ao corpo: Muito Obrigado ferramenta potente, seguimos aquilo que nos move sem distinção, somos colados, por isso nos compreendemos, você me respeita e eu te respeito, juntos trabalhamos e seguimos esta orquestra divina, somos Amorfos, Moventes, por isso vivemos em Harmonia.

Tomado por essa corrupção que atinge todas as coisas de maneira natural, não sendo essa mutação mais do que alteração e dissolução, vive o risco desse movimento, na Aceitação que faz ver, ouvir e falar contra qualquer tipo de negligência.

Piloto do Caos: Poeta que atua sem medo de vestir as Sete Peles.

Apontamento do RISCO: movimento vivo que cresce e se revigora enquanto a atração (influxo) dos elementos compatíveis excede a dispersão e o escoamento (efluxo) e envelhece e decresce enfraquecendo-se quando o influxo dos elementos estranhos e o efluxo das partes naturais se intensificam.

Escritura, Velhice, Loucura, Morte e o outro lado dentro desse mesmo: no fim e em momento mais produtivo sempre a corrupção atinge as coisas, não sendo a Mutação mais do que alteração ou dissolução.

Me cerco de tudo que preciso para dispersar e emanar a essência, na medida de Vida,  observo isso no Grande e vejo em que momento estamos nesse movimento divinatório.

  
 









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