segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Um homem resolveu sair sem tirar sua roupa de trabalho. Fiquei naquela cor de sangue amarelo, num degrade de pulsar, nas botas de borracha suja, nas marcas dos seus ombros e nelas vi gravada, onde ele apóia os pedaços, a carnificina de seu expediente. Vi ele deixando um rastro vermelho no chão, chacoteando os companheiros em voz alta, assobiando, segurando pelo gancho, levando as peças do caminhão até o fundo do açougue, raspando sutilmente no chão sem ninguém ver. Sim , carne era o que não faltava ali, queria, estava presente em corpo e com aquela cara – careca, olho fundo e irônico e aguado, magro e alto, tinha um nariz que cobria a boca, facilmente tocaria a ponta com a língua, como artistas, palhaços e anomalias de circo de horrores, ou amigos disputando habilidades poéticas num bar, ou um avô no auge de seu amor, levando a meia dúzia de netos ao delírio e as tias à indignação, na mesa, em pleno almoço de domingo –, sabia o que estava fazendo, no seu jeito estava uma fala, o que fazia era algo que a muito tempo já deveria ter feito, só faltava coragem. Assim atravessava na busca de uma fresta. Todos se espantaram, aquela intervenção na sua potência, abismou tudo.

A imagem do embarque na linha vermelha fala por si. E ele permaneceu.

Na tentativa do relato está um ônibus abandonado no meio do Alasca
me aproximo dele catando cavaco como quem se recupera de uma surra
e habito este lugar
que se faz quando está com fome

- isso poderia dar uma pergunta, mas na fome o blog do Luiz Felipe Racho é mais justo-

Carrego meu rifle
Afio minha faca
Separo as ervas, daninhas para esquerda e assim por diante

Não, não tem véus em jogo, tudo me reverbera nesse ato suicida
Cadê ele
perguntariam do universo paralelo e metafísico que finca seu pé no chão carnoso


Aqui ó
lendo este vínculo que é o da voz do canto
cuidando do vento que venta da minha boca
e dos reflexos daquilo que riacho
sem espanto percebi uma conjugação pra borrascas
nos livros de Adail se refaz o mundo:

tudo é reflexo da minha mente

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