Um homem resolveu sair sem tirar sua roupa de trabalho. Fiquei naquela cor de sangue amarelo, num degrade de pulsar, nas botas de borracha suja, nas marcas dos seus ombros e nelas vi gravada, onde ele apóia os pedaços, a carnificina de seu expediente. Vi ele deixando um rastro vermelho no chão, chacoteando os companheiros em voz alta, assobiando, segurando pelo gancho, levando as peças do caminhão até o fundo do açougue, raspando sutilmente no chão sem ninguém ver. Sim , carne era o que não faltava ali, queria, estava presente em corpo e com aquela cara – careca, olho fundo e irônico e aguado, magro e alto, tinha um nariz que cobria a boca, facilmente tocaria a ponta com a língua, como artistas, palhaços e anomalias de circo de horrores, ou amigos disputando habilidades poéticas num bar, ou um avô no auge de seu amor, levando a meia dúzia de netos ao delírio e as tias à indignação, na mesa, em pleno almoço de domingo –, sabia o que estava fazendo, no seu jeito estava uma fala, o que fazia era algo que a muito tempo já deveria ter feito, só faltava coragem. Assim atravessava na busca de uma fresta. Todos se espantaram, aquela intervenção na sua potência, abismou tudo.
A imagem do embarque na linha vermelha fala por si. E ele permaneceu.
Na tentativa do relato está um ônibus abandonado no meio do Alasca
me aproximo dele catando cavaco como quem se recupera de uma surra
e habito este lugar
que se faz quando está com fome
- isso poderia dar uma pergunta, mas na fome o blog do Luiz Felipe Racho é mais justo-
Carrego meu rifle
Afio minha faca
Separo as ervas, daninhas para esquerda e assim por diante
Não, não tem véus em jogo, tudo me reverbera nesse ato suicida
Cadê ele
perguntariam do universo paralelo e metafísico que finca seu pé no chão carnoso
Aqui ó
lendo este vínculo que é o da voz do canto
cuidando do vento que venta da minha boca
e dos reflexos daquilo que riacho
sem espanto percebi uma conjugação pra borrascas
nos livros de Adail se refaz o mundo:
tudo é reflexo da minha mente
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