Amigo Salatiel,
me lembro do fundo da sala de
aula onde éramos sozinhos – numa pátria estranha, um estrangeiro só se sente
conterrâneo na presença de ouro estrangeiro.
Me lembro de mentirmos um para o
outro nas licenças da amizade, filosofando e rindo em alto e bom som. Fui
arremessado a ti depois de um desconsolo.
Em orações, como faço agora, peço
coragem para ser mais e confiar na via da vida ecolar-me caminhante no caminho.
Como sempre, no caminho mais tortuoso – aquele que diz e se desdiz, se anuncia
em silêncio e tem um rosto- sempre- depois -, porém digno e grande por não ser
uma escolha e sim uma captura ( dizer aqui é um simulacro, pois está no depois
e, mesmo sendo, está depois – dizer aqui é esticar a impossibilidade de dizer
na impossibilidade de não dizer: forja - rosto) de difícil fuga. Pela tangente
visualizo todos os desdobramentos de um olhar que parece clivado, mas não é: ao
invés de um diamante, um círculo.
Guardei as orações dentro do
livro grande, de bordas douradas e folhas finas e opacas. Desde ontem venho
fazendo isso, vide aquela que mostra o caminho. Caí em Ageu, onde o profeta
discursa para encorajar os habitantes a reconstruírem o templo. O quarto está sob a proteção de
Zorobabel e foi aí, que o seu nome saltou como sendo o nome do pai daquele que
concebe a proteção na voz do salvador.
Do que me sinto protegido em
dobro, pois estive ao seu lado e juntos sobrevivemos aos perigos. Sinto-me
guardado como um selo resguardado guardado no mistério antes da palavra que
corre o risco de dizer, assassinando e podando com a masculinidade opressora.
Só vejo a saúde em tudo amigo,
como naquele nosso tempo.
Espero que esta carta lhe
encontre bem, assim como estou a permanecer no malabarismo entre o bom e o
certo – trabalho no que tenho.
Um pouco disso lhe desejo,
Seu, B.P.
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