quinta-feira, 19 de março de 2015

Amigo Salatiel,
me lembro do fundo da sala de aula onde éramos sozinhos – numa pátria estranha, um estrangeiro só se sente conterrâneo na presença de ouro estrangeiro.
Me lembro de mentirmos um para o outro nas licenças da amizade, filosofando e rindo em alto e bom som. Fui arremessado a ti depois de um desconsolo. 
Em orações, como faço agora, peço coragem para ser mais e confiar na via da vida ecolar-me caminhante no caminho. Como sempre, no caminho mais tortuoso – aquele que diz e se desdiz, se anuncia em silêncio e tem um rosto- sempre- depois -, porém digno e grande por não ser uma escolha e sim uma captura ( dizer aqui é um simulacro, pois está no depois e, mesmo sendo, está depois – dizer aqui é esticar a impossibilidade de dizer na impossibilidade de não dizer: forja - rosto) de difícil fuga. Pela tangente visualizo todos os desdobramentos de um olhar que parece clivado, mas não é: ao invés de um diamante, um círculo.
Guardei as orações dentro do livro grande, de bordas douradas e folhas finas e opacas. Desde ontem venho fazendo isso, vide aquela que mostra o caminho. Caí em Ageu, onde o profeta discursa para encorajar os habitantes a reconstruírem o  templo. O quarto está sob a proteção de Zorobabel e foi aí, que o seu nome saltou como sendo o nome do pai daquele que concebe a proteção na voz do salvador.
Do que me sinto protegido em dobro, pois estive ao seu lado e juntos sobrevivemos aos perigos. Sinto-me guardado como um selo resguardado guardado no mistério antes da palavra que corre o risco de dizer, assassinando e podando com a masculinidade opressora.
Só vejo a saúde em tudo amigo, como naquele nosso tempo.
Espero que esta carta lhe encontre bem, assim como estou a permanecer no malabarismo entre o bom e o certo – trabalho no que tenho.
Um pouco disso lhe desejo,
Seu, B.P.


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