sábado, 3 de março de 2012

resposta à mandala




Sobre não se poder viver no limite de sua capacidade:

Tudo que podemos evitar devemos evitar.

Tudo que podemos fazer, devemos fazer por que podemos e se podemos fazer, é por que devemos.

Um surdo pode fazer tudo, menos ouvir.

Cervantes concluiu Dom Quixote numa prisão em Madrid, assim como Ungaretti escreveu seu livro de poemas “A alegria” no fronte de batalha. Quando Cervantes estava em vias de concluir sua obra, acabaram os recursos de papel e então começou a escrever no couro. Sabendo disso, um milionário espanhol quis lhe fornecer papel e o material necessário para concluir tal obra. Mas Cervantes recusou dizendo que o céu lhe proibia que se retirassem dele os fardos de que lhe eram necessários e que o que enriquece o mundo são tais situações adversas.

Maturana fala bonito quando fala que não vemos o mundo como ele é e sim vemos o mundo como somos.

Heidegger pensa na diferença entre o mundo e o planeta e que a obra de arte é o fruto de um combate entre planeta e mundo. Planeta é o que está, é o céu e a terra que sempre ai esteve incondicionalmente. E mundo é tudo quilo que de dentro (mundo-mente) projetamos do olho para fora entre a terra e o céu (planeta). Nessa interferência continua e inevitável, vemos que só assim uma obra de arte pode mudar o mundo e também que se o mundo acabar, o planeta persistirá com as samambaias crescendo entre as frestas.

O mundo é pequeno perto do planeta, mas um só existe no outro.

As situações adversas como a de Cervantes enriquecem o mundo (mente), e amplia o mundo. Se ampliar o mundo é ampliar a mente, e podemos executar este trabalho de aumentá-lo, devemos alargá-lo em sua potência e continuar o trabalho de emancipação. Se não executarmos o que devemos executar em seu limite, talvez o mundo não se estique o bastante e não se manifeste em sua totalidade.

Não sei por que devemos, mas se devemos, devemos aqueles que esticaram a possibilidade de mundo para nós, pois se necessitamos escrever hoje, temos em mãos, uma caneta para escrever. Devemos a essa herança ancestral. Devemos honrar isso, honrar essas pessoas que viveram no limite das adversidades e nesse limite viram que podiam esticá-lo.

4 comentários:

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  3. ô querido... Me sinto desafiada a buscar o limite de alargar o mundo. Muito obrigada pela resposta. Mas a pergunta continua viva... D
    isse da vontade, mais até, da obrigatoriedade de viver esse limite conhecido... Continuemos pensando... Beijo grande meu irmão!

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