quarta-feira, 6 de abril de 2016

Medir a palmo: do espólio ao rasgo

Ato na SalaB (Guarulhos) – Edgar & Mata Viva 12.03.16

Vem da cabeça de Jano.

 Foi habitar o buraco-fronteira entre o mundo(vagão de um projeto-pensado) e o aberto ( a terra insondável - paraíso terrestre). Verificar o que é estar neste lugar, mas pendendo para o lado-mundo do projeto-pensado. Ser o homem do mundo, copitado e copitante: aquele que se espanta com a matéria-arte que é ser esta fronteira mundo-terra. Ser o poder do espólio: aquele que quer, com uma precisão cientifica e cirúrgica, escanear todas as partículas daquilo que brota, guardando os patrimônios do ja existente . Esta é a missão de medir tudo, controlar tudo. E os editais parecem ser isso?! 

Compreender o mundano, acolher o chamado do mundo verificando a posição de quem o adentrou e conseguiu permanecer no dentro. 

Também matar isso que existe em cada um de nós: cada um tem um tirano que deve ser amansado até torna-lo aliado. Rasgar o medo de ser autônomo: a impressão de um sempre apadrinhamento: CLT´s, EDITAIS, EGO e etc.; Saltar da estrutura psicanalítica e edipiana. Trocar o costumeiro papai e mamãe pelas possibilidades tântricas da existência. Cumprir a tarefa antropofágica de transformar os tabus em totens.  
Estar na pele deste silencioso inimigo. Habitar as suas entranhas a fim de entendê-lo alocado ao seu organismo sondando as possibilidades de ser uma contra-mola das suas engrenagens. Segurar a primavera nos dentes, sentir a virulência e ser a peste de Artaud. Identificar o órgão que sofre e ir na dor e curá-lo: subjétil.   
Envelopar isso-Edgar que surgiu e que vibra na terra. Sondar a sua essência, copitar cada milímetro de suas energias particulares, chamando tudo que ele é para o nosso time-do-bem-estruturado, chamando para dentro do mundo.

Músicos rasgam o plástico que tenta sufocar isso-Edgar-artista que brota. Rasgam a roupa do homem agente do mundo. Tem um auxiliar de espólio que é uma espécie de capeta que aponta para todos e põe lenha na fogueira para ver tudo ser destruído. Ele é o símbolo do querer instituído na falácia do humano-que-somos dentro de um projeto-pensado-mundo.  Fico de canto imperceptível. Nada é tão divertido, não da para curtir e apreciar a aparição: parte por parte, ato por ato é escaneado e medido a palmo.

Coisas do mundo são lidas, coisas do mundo são ditas como jornais espalhados pelo chão, indo com o vento que levanta a poeira da aterra.   

 Depois o decalque: a essência é extraída daquele corpo-aparição. Tudo foi mapeado e medido. Tudo cercado com palavras como no ato filosófico que diz tudo para que tudo fique no mundo-do-já-dito: mundo do mesmo e inteiro preenchido de sentido. O trabalho artístico do mundo é realizado e tudo é dito e cercado de palavras por todos os lados, não restando espaços abertos, lacunas e vacâncias. Todas as frestas são tapadas na impossibilidade do vazamento, na impossibilidade do fora: trabalho narcísico de deixar tudo com a forma do rosto humano, com a semelhança daquilo que já somos – a exclusão excessiva daquilo que fomos nos veta das possibilidades daquilo que poderíamos ser. Eis a perversa EUsificação da vida e das coisas que inflam a vida. 

Mas nada consegue permanecer aí, assim. Aquilo que nos abarca e que para onde somos arrastados incondicionalmente se mostra. É uma força terrível que honra a terra daquilo que fomos: os músicos rasgam a roupa do agente do espólio. O agente do mundo do eu e do querer é rasgado, suas roupas deformadas e o seu rosto transfigurado.

O lugar da amizade, do encontro e do aberto se instaura. Isso que nos toma pede que um circulo seja desenhado no vidro do fundo de tudo e de todos atrás dos artistas para onde somos levados pela arte: sempre mais fundo. Dançamos de saia, todos ganham uma mancha vermelha na testa, acontece o ritual de um tempo outro.         

 O humano mundificado( fechado ao humanismo)  se transforma num circulo de palavras que não existem e que aos poucos vão se esfarelando até não mais existirem. O humano-que-somos foi transfigurado em inumano (homem pós-homem e pré-bicho) perto do animal que fomos e ainda somos. 

A crença no simpático se mostra, assim como a comunhão com a natureza onde todos se veem nus. Tudo acontece conforme as imagens.       



                                   

                              
















Registros: Julia Griebel e Marcella Camillo

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