terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pariptético:

 Amigo, já ouviu falar em organização pessoal, espiritual, financeira e pessoal, essas coisas?
-Eu não posso ter organização, sou um artista!

- É que quando você fala esta palavra, sua boca e seu peito mostram a inflação de seu ego.

-Eu tenho orgulho.

-A palavra eu hoje é questionada, amigo, como uma palavra que apresenta algo muito impreciso, perecível e, hoje em dia desconfiamos com todas as forças de atitudes que partam somente dela. Ela diz de um modo restrito e imparcial, representando o oposto ao tão almejado caminho do meio. Ela desvirtua amigo.
Percebo quando capengas em tuas atividades e tropeça constantemente em seu ego, que é tal como um rabo que fica quando passa entre as portas que se abrem.
Os artistas - principalmente os que se avizinham dos poetas – carregam, assim como eles e os profetas, xamãs, pajés e os oráculos místicos, a missão de segurar, como pilares, a queda do mundo superior sob o inferior, o que causaria a destruição do nosso mundo intermediário.
Por isso amigo, ser sustentáculo e antena, exige certa organização, pois se trata de um trabalho capilar, entrelaçado e, ver e dizer deste crivo exige, além de disciplina, permanência e constância, também a demissão do eu que se dissolve em meio a esta trama que se mostra. Amigo, se dar a estes atos de doação disciplinar, doutrina e organização pessoal, em prol, num ato semelhante ao de um Vaishnava, e transmitir para os outros o diálogo entre os mundos, exige muito respeito, coragem, disposição e aceitação. Este trabalho para os outros, não aceita tropeços, uma queda pode causar a dispersão.

Sei que não quer isso amigo, por isso te digo, pois sei que quando diz “eu não preciso me organizar, por que eu sou artista”, é um eu pequeno e inflacionário que fala, um eu “descolado”, que pensa somente em si numa carreira de sucesso. No seu medo de ser medíocre, adquire complexos (de Picasso: promiscuo, artista de ateliê, acorda meio dia, transa pinta três quadros e volta a dormir; e de van Gogh: artista doidão, rejeitado e mal compreendido por todos, postura inviável nos dias de hoje, pois as raves e a cracolândia está cheia deles, arranca a orelha para não ouvir nada e nem ninguém) espelhando-se em artistas bem sucedidos, para a emancipação do seu eu.

Este trabalho de se debater, catar cavaco e cavar a duras penas um “espaço”, te faz esquecer que seu trabalho é intermediário – mostrar o desconhecido para os outros – e que este para os outros pode acontecer em todos os momentos de sua vida, até nos médios. Às vezes, seu medo de ser medíocre – que aparece na sua ânsia de ser Rimbaud: o além da média – lhe priva de potencializar todos os momentos da vida, vivendo-os de forma ausente à espera que a arte aconteça.  Seu trabalho é para os outros e realizá-lo, talvez fosse trazer este momento “onde a arte acontece“ para todos os momentos de sua vida, tornando-os potentes, com as pessoas a sua volta, ampliando o âmbito das experiências graves e produtivas. Deves juntar sua fala ao corpo.
Depois da fala, um silêncio tomado, as palavras são engolidas a seco na fresta da frase que permanece na ação sem agir, diz sem nada dizer. Na casa ao lado o vizinho trabalha a infância, recebe entidades e germes de criança.

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