quinta-feira, 12 de maio de 2016

ENTROPIA


Atmosférica



Uma voz foi arraigada ao corpo inoculada antes da epiderme como se fosse o nosso principal agente orgânico. Para ouvir o inato anterior a isso foi preciso silenciar. O coração era um surdo invertido que tocava lento e fora do tempo do outro lado do oceano, numa pátria desconhecida. Tratava-se de silenciar o corpo e o mar que arrebentavam juntos na beira da praia, até conseguir ouvir o som do que soava inaudível. Nisso surgiram os espaços de crelazer onde o para nada pode acolher a sinceridade de nossos devaneios sem querer, repletos somente de apetite. Foi preciso deixar emergir estas imagens que uma a uma iam saltando acima de nossos pensamentos e só assim conseguimos sossegar a casca desta voz que cegamente só queria e queria.   
a suposta voz assassina sussurra com o cachorro que uivava a pouco
                                        na ladeira da rua Bahia
                                                                       vale a pena dizer
           somos amados pela forma como saímos da angústia : a arte, os presentes e a marcenaria parecem exigir graça em estar aqui

a forma como você me capta
diz-me
é  o uivo do cachorro que te fez vibrar antes
e o amor tem muito mais a ver com isso do que com as coisas escritas,
                                                                                                                 o fazer e o martelar
                                                                                                 
e aquela menina sacudindo os braços na estrada de Itapecerica

é a imagem de como ela sai desta cachoeira que quando venta
parece ventar ao contrário
apesar da tara caótica
uma ordem teima e se instaura
e duas respostas russas para asas:

1-      Hoje vieste, e o dia pôs-se
Soturno , de cumbo,
E chovia, fazendo-se tarde,
Com gotículas na ramagem fria

Não pode a palavra mitigar, nem o lenço devolver pureza

2-      Íamos, sem saber para onde,
Perseguidos por miragens de cidades
Derrotadas construídas no milagre,
Hortelã pimenta aos nossos pés
As aves acompanhando-nos o voo,
E no rio os peixes à procura da nascente
O céu, a nós se abrindo.


Por que o destino seguia-nos o rastro feito um louco com uma navalha na mão

perguntas de escravo




fixado ao lugar da origem, perto de sua fonte, os fatos se abrem referentes ao espaço. leque ou o ponto de espoque. o it que se desnadifica coisificando a realidade. É uma girada em torno do núcleo como planta que concentra a infinição no talo. 

Diário de borda




as válvulas sem semântica nem sintaxe que só se abrem
e essas aberturas poderiam explicar as rezas de todo um povo
mas não é disso que se trata
é mais próxima a quentura do sol nas costas
ou a teoria de que já temos luz própria e que somos uma estrela

pois é mais rente uma combustão sem freio do que qualquer tentativa de preenchimento

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Deligniando








a ferrugens na pedra da pia
adiante sempre
a escrita se coçando um corpo para si







 na mancha dos acontecimentos
 os tártaros sabiam da gordura contida na semente
por isso o embalaram e o lavaram enquanto acessavas o início

aqui uma louça é lavada
 enquanto a serra se recolhe ao duro do corpo como se sendo osso e só

dizer é a quina onde ele acaba


Tatuagem Guilhere Valério



veia saltada nos indícios de onde vamos quando dormimos
cada estralo de uma luz que se apaga
 e os aniversários desse rio

todo calendário que é ser margem